Marcelo justifica “compaixão pelo Governo” com “vontade popular”

Presidente da República respondeu, em directo, a alunos da Universidade de Verão do PSD.

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Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que trabalho de acompanhamento de uma maioria absoluta é "redobrado" LUSA/MÁRIO CRUZ

Numa sessão em directo ao final de um dia marcado pela demissão da ministra da Saúde, o Presidente da República sujeitou-se a perguntas dos alunos da Universidade de Verão do PSD. Uma delas parecia dar eco aos lamentos de muitos sociais-democratas que viram, nos últimos anos, uma indesejada proximidade ao Governo por parte do Chefe de Estado. Marcelo Rebelo de Sousa justificou a sua actuação com o contexto vivido a “cada momento” e com a “vontade popular”, que culminou com uma maioria absoluta do executivo de António Costa.

Na resposta ao aluno da Universidade de Verão, que o tinha questionado sobre se fará uma nova abordagem face à “benevolência” ou à “compaixão pelo Governo”, o Presidente da República lembrou que intervenções como a que fez na sequência dos fogos de 2017 ou a dissolução da Assembleia da República em Dezembro passado foram determinadas pelo seu “entendimento” como Chefe de Estado. O antigo líder do PSD rejeitou a ideia de poder representar um partido: “O Presidente sendo originário de um partido, não é porta-voz, seja ele do Governo ou oposição. Ao sê-lo, acaba por tirar espaço a esse partido ou a outros”.

Depois, Marcelo acrescentou contexto histórico desde que iniciou funções em 2016. “Entro com o país dividido ao meio. Fico com a taça. Durante meses, questionou-se a legitimidade de cada um dos hemisférios. Havia um procedimento de défice excessivo. Portugal teve uma crise bancária particularmente grave, o interesse nacional determinava os objectivos com que tinha sido eleito: estabilização, pacificação e credibilização”, afirmou, referindo que, depois em 2018, surgiram movimentos inorgânicos que abalaram partidos e sindicatos.

No ano seguinte, iniciou-se um ciclo eleitoral, que “pesou” no seu espírito. “O Presidente vai tendo presente em cada momento a vontade popular, a situação vivida, a existência que sempre defendi de alternativas. Disseram muitos: foi uma benevolência que não foi compreendida por sectores da sociedade, mas foi pelo povo que foi votando”, justificou, referindo que foi alvo de crítica semelhante mas “ao contrário” a propósito da solução política gerada em Novembro passado na região autónoma dos Açores.

A propósito da demissão da ministra da Saúde, Marcelo Rebelo de Sousa não quis comentar o caso em concreto e transformou a pergunta numa outra: Como é que o Presidente exerce funções no quadro de maioria absoluta? A resposta já tinha sido dada na tomada de posse do actual Governo, a 30 de Março, mas é agora reiterada. “Maioria absoluta significa responsabilidade absoluta, quem tem mais meios fica mais responsável por aquilo que utiliza de meios disponíveis, não tem a desculpa que tem um Governo que depende de equilíbrios parlamentares”, afirmou, colocando também peso em si próprio: “O Presidente da República tem um trabalho redobrado de acompanhamento dessa realidade”.

Uma intervenção de um aluno da Universidade de Verão confrontou Marcelo com as suas “constantes aparições na comunicação social” e se elas “beneficiam ou prejudicam a sua magistratura de influência”. O Presidente da República justificou com o seu estilo e lembrou que já era esta a sua maneira de estar na vida pública antes de ser eleito. “Cada Presidente tem o seu estilo, fui eleito como era e fui reeleito. Pensei nisso no caminho de São Bento para Belém: vou mudar a maneira de ser ou não? É um desastre, não fica nem carne nem peixe”, contou.

Ao fim de sete anos, Marcelo assume que não faria diferente: “Não estou arrependido, evitei muitas crises em que se não tenho intervindo o balão inchava, intervim antes dessas intervenções populistas terem ocupado espaço, reforcei o peso do magistério de influência.”

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