EUA acusam membro dos Guardas da Revolução iranianos de conspirar para assassinar John Bolton

Plano contra o antigo conselheiro de Segurança Nacional do ex-Presidente Donald Trump terá sido desenhado em resposta ao ataque norte-americano que matou o general Qasem Soleimani, em Janeiro de 2020.

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John Bolton é conhecido por se opor a negociações entre os EUA e o Irão JONATHAN DRAKE/reuters

Um operacional dos Guardas da Revolução, a poderosa força de elite próxima do Guia Supremo iraniano, foi acusado pelos Estados Unidos de conspirar para assassinar o ex-conselheiro de Segurança Nacional de Donald Trump, John Bolton. Segundo o Departamento da Justiça, Shahram Poursafi “tentou pagar 300 mil dólares [290 mil euros] a indivíduos nos Estados Unidos para realizar o assassínio em Washington ou Maryland”.

Poursafi, também conhecido como Mehdi Rezavi, tem 45 anos e está em Teerão, sendo por isso improvável que venha a ser julgado. As acusações descrevem como é que o operacional iraniano pediu a um residente nos EUA que conhecera online para tirar fotografias de Bolton, alegadamente para um livro que estaria a escrever. A primeira pessoa contactada por Poursafi apresentou-o depois a outra a quem o iraniano acabaria por pedir que matasse Bolton e enviasse um vídeo a provar que o fizera.

Bolton integrou a Administração Trump entre Abril de 2018 e Setembro de 2019. Pouco depois, a 3 de Janeiro de 2020, a Casa Branca ordenou um ataque aéreo que matou o general Qassem Soleimani, em Bagdad. Soleimani, que o veterano agente da CIA, John Maguire, definiu como “a personalidade operacional mais poderosa no Médio Oriente”, comandava desde 1998 a Força al-Quds, dos Guardas da Revolução, responsável pela acção militar no estrangeiro e pelas operações clandestinas.

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Era o segundo homem mais poderoso do Irão, a seguir ao ayatollah Ali Khamenei. Na altura, o Guia Supremo prometeu “vingança” e temeu-se uma escalada no conflito entre os Estados Unidos e o Irão. Apesar de já não estar em funções na altura do ataque, Bolton notabilizou-se por preconizar uma política externa agressiva em relação ao Irão e defendia uma mudança de regime.

Agradecendo às autoridades e às forças de segurança norte-americanas por travarem a conspiração, Bolton aproveitou a notícia para criticar os esforços da Administração de Joe Biden para relançar o acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano. “As armas nucleares e as actividades terroristas do Irão são dois lados na mesma moeda. Nenhuma administração responsável deveria pensar outra coisa”, afirmou, num comunicado o diplomata, que recentemente voltou a ser notícia por ter admitido, numa entrevista, que ajudou “a planear golpes de Estado”.

“Regressar ao fracasso acordo de 2015 seria uma ferida auto-infligida sem paralelo, para nós mesmos e para os nossos aliados mais próximos no Médio Oriente”, disse ainda Bolton, acrescentando: “Continuo comprometido em impedir que isso aconteça”. Foi com Bolton na Casa Branca que Trump decidiu rasgar o acordo que tinha introduzido um sistema de monitorização das actividades nucleares iranianas.

Tudo isto acontece na semana em que a União Europeia anunciou que o “texto final” do novo acordo já está a ser analisado em Washington e Teerão, explicando que o trabalho dos negociadores terminou e que só faltam as decisões políticas para que o pacto possa ser assinado.

Em resposta às acusações do Departamento da Justiça dos EUA, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, Nasser Kanaani, deixou um aviso: “O Irão adverte fortemente contra qualquer acção que tenha como alvo cidadãos iranianos a pretexto destas acusações ridículas e infundadas”.

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