Vítima de alegada violação diz que padre tentou comprar o seu silêncio. PJ aguarda que MP envie processo

Padre de 62 anos, capelão em Alcoitão, foi entretanto afastado pelo Patriarcado de Lisboa.

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Patriarcado de Lisboa deu conta do afastamento do padre num comunicado emitido esta segunda-feira Nuno Ferreira Santos

A mulher que terá sido alegadamente violada por um padre, entretanto afastado de funções pelo Patriarcado de Lisboa, deu uma entrevista à TVI e contou pormenores do caso. Assumiu que conhecia o então capelão de Alcoitão, de 61 anos, há mais de duas décadas e que iniciou um caso amoroso com este no final do ano passado.

Segundo a viúva, tudo começou no dia em que se quis confessar. “Eu fui para me confessar. Confessei-me, mas nesse dia, quando me estava a confessar, ele tirou a estola e disse: ‘isto não é uma confissão, somos amigos. Eu vou esquecer que isto é uma confissão’. A conversa prolongou-se e ficámos até à meia-noite na conversa. Naquele momento não estava a ser padre ou algo parecido”, sublinha, explicando que a partir daí começaram a encontrar-se amorosamente.

Encontravam-se, segunda conta a mulher, numa sala na capela da Ressurreição, em Cascais. O padre ter-lhe-á pedido para nunca contar que tinham um caso.

Até que, no dia 23 de Junho, alegadamente o padre a forçou a ter relações sexuais: “Ele quis sexo à bruta, queria que eu fosse escrava sexual dele. Bateu-me, deixou-me toda negra e eu gritava para ele parar e ele não parou. Deixou-me toda rasgada”, relatou na entrevista à TVI.

A alegada vítima diz que, no dia seguinte, o padre lhe pediu perdão e que tentou comprar o seu silêncio com um rolo de notas. Seriam uns 300 euros.

“Eu respondi-lhe: vais preso, vais pagar pelo que me fizeste a mim e a mais alguém”, relata a mulher que alega que no dia da violação saiu da capela pelos seus próprios meios, tendo seguido para casa, onde foi um vizinho que chamou uma ambulância. Tinha dores, afirma.

A mulher diz que foi levada para o Hospital de Cascais, mas que depois foi transferida para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, para fazer as perícias médico-legais.

Contou na mesma entrevista que denunciou o caso ao Patriarcado de Lisboa. Alega que o cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, lhe terá pedido que não revelasse o caso aos jornalistas.

Acabou por fazer queixa na GNR de Alcabideche e o processo está no Ministério Público de Cascais. Até à hora de almoço desta terça-feira, o processo ainda não tinha chegado à Policia Judiciária (PJ), apurou o PÚBLICO.

“Era muito educado"

O padre que é acusado por esta mulher de violação foi ordenado em 1993. Terá sido uma vocação tardia. Licenciou-se em Teologia na Universidade Católica. Segundo um dos seus colegas, pertence à turma de 85-86. “Era muito educado, mas não era muito sociável. Passava despercebido facilmente, uma vez que não era muito interventivo”, conta um ex-colega, acrescentando que era aluno de notas médias.

Já o Expresso relata que passou pela paróquia de Santa Maria dos Olivais, em Lisboa, em meados dos anos 90 e que deixou marcas entre os ex-colegas, sobretudo porque ninguém esquece um episódio que meteu até polícia.

Alegadamente, o pároco garantia que era alvo de ameaças de morte e até mostrava bilhetes dactilografados em que alguém escreveu que lhe queriam meter uma bomba no carro.

No entanto, as autoridades descobriram que o tipo de letra dos bilhetes anónimos era a mesmo da máquina de escrever da paróquia e que, afinal, “era o padre que se ameaçava a si próprio”.

O PÚBLICO tentou contactar o padre em causa, mas este mantém o telemóvel desligado.

Na segunda-feira, em comunicado, o próprio patriarcado revelou que “recebeu uma denúncia relativa a um possível crime de violação praticado por um sacerdote diocesano” e que o caso “não se enquadra no âmbito da Comissão de Protecção de Menores”, tendo sido “comunicado às autoridades civis competentes.

“Ouvida a vítima e o sacerdote, o Patriarcado de Lisboa decidiu dar início aos procedimentos canónicos previstos para este tipo de casos e afastou o padre de todas as suas funções até ao apuramento dos factos”, lia-se no mesmo comunicado.

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