Manifestantes voltam a invadir Parlamento iraquiano

Apoiantes do influente líder xiita Moqtada al-Sadr têm tentado impedir a nomeação de um primeiro-ministro pertencente a um partido pró-iraniano.

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Apoiantes de Sadr voltaram a invadir a "Zona Verde" de Bagdade Reuters/SABA KAREEM

Milhares de apoiantes do líder político xiita, Moqtada al-Sadr, voltaram a invadir o edifício do Parlamento iraquiano este sábado para travar a nomeação de um novo primeiro-ministro. Os confrontos com a polícia deixaram pelo menos 125 feridos.

Os apoiantes do religioso xiita escalaram várias barreiras de segurança que rodeiam a chamada Green Zone de Bagdade – um perímetro no centro da capital iraquiana fortemente guardado onde estão localizados os principais edifícios governamentais e embaixadas – até alcançarem a sede do Parlamento. Repetindo as cenas da última quarta-feira, milhares de pessoas invadiram o local para impedir uma sessão parlamentar.

Desta vez, as forças de segurança recorreram a métodos mais musculados, usando granadas de gás lacrimogéneo e granadas de atordoamento, de acordo com a Al-Jazeera. No entanto, os manifestantes não recuaram. O Ministério da Saúde contabilizou 125 feridos entre manifestantes e agentes da polícia.

“Exigimos um governo livre de corrupção”, dizia um dos manifestantes, Abu Foad, citado pela Reuters, enquanto ao seu lado milhares de pessoas seguravam fotografias de Al-Sadr e bandeiras iraquianas.

O partido de Moqtada al-Sadr foi o mais votado nas eleições legislativas de Outubro, mas depois de não ter conseguido formar Governo, os seus 74 deputados abandonaram o Parlamento. Sem a bancada comandada por Al-Sadr, a Plataforma de Coordenação, uma aliança de partidos xiitas apoiados pelo Irão, tem tentado formar um novo Executivo e nomeou Mohammed al-Sudani, um antigo governador, como primeiro-ministro.

Porém, o líder xiita tem utilizado a sua vasta influência popular para pressionar a classe política a não aprovar um novo executivo que não cumpra os seus critérios, que incluem a ausência de interferência estrangeira na política nacional e a luta contra a corrupção.

Al-Sadr é uma figura muito poderosa no contexto político iraquiano. Muitos membros do seu movimento estão posicionados em cargos fundamentais em ministérios e órgãos provinciais. O seu discurso nacionalista, com ênfase no combate à corrupção – embora os seus adversários também o acusem de práticas ilícitas –, tem sido bem recebido por uma população cada vez mais empobrecida e frustrada com os cortes frequentes no abastecimento de água canalizada e electricidade, educação de fraca qualidade e falta de emprego para os mais jovens.

Em 2019, uma onda de protestos varreu o país, precisamente motivada pela percepção de que a classe política iraquiana é impotente para criar melhores condições de vida para o grosso da população, apesar da riqueza em recursos naturais do país.

Na quarta-feira, milhares de apoiantes do movimento de Al-Sadr já tinham invadido a Green Zone para impedir uma sessão parlamentar de nomeação de Sudani como primeiro-ministro. A votação foi suspensa e esperava-se que fosse retomada este sábado, mas não é claro se a sessão será cancelada. Alguns manifestantes receiam que os deputados se reúnam à porta fechada, diz a Al-Jazeera.

As Nações Unidas emitiram um apelo para o apaziguamento e normalização da situação política e social. “Vozes da razão e sabedoria são fundamentais para prevenir mais violência”, declarou a missão da ONU no país.

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