Covid-19: pelo menos 30 milhões doentes com alterações no olfacto e paladar a longo prazo

Estudo publicado na revista The BMJ estima que cerca de 5% dos infectados continuam a sentir alterações no olfacto e paladar meio ano depois da doença. Incidência destes sintomas a longo prazo é maior nas mulheres.

Foto
Entre os mais de 550 milhões de casos de covid-19 detectados até hoje, pelo menos 27 milhões de adultos podem ainda sofrer de problemas no olfacto ou paladar Daniel Rocha

Cerca de 5% dos adultos infectados com covid-19 sentem alterações no olfacto e paladar meses depois da doença. A conclusão é de um estudo publicado esta quarta-feira na revista The BMJ.

O trabalho, já revisto por pares, estima que, entre os mais de 550 milhões de casos de infecção já registados até agora, pelo menos 27 milhões de adultos possam ainda sofrer de deficiências no olfacto ou paladar (15 milhões e 12 milhões, respectivamente). Conclui, por isso, que uma “proporção substancial” de doentes com covid-19 pode desenvolver alterações duradouras no olfacto ou palato, o que contribui para o “peso crescente” da covid-19 prolongada (“long covid”).

A amostra utilizada para consistiu em 18 estudos observacionais, com um total de 3699 pacientes de todo o mundo, sobre alterações de olfacto e paladar em populações de adultos com covid-19 e tempo de recuperação.

Os investigadores concluíram que a perda de cheiro pode persistir em 5,6% dos pacientes, com 4,4% dos infectados a relatar que não voltaram a sentir sabor. Um mês após a infecção inicial, “apenas 74% dos pacientes referiram ter recuperado o olfacto e 79% a recuperação do paladar”.

A taxa de recuperação aumenta todos os meses até ao meio ano após a infecção pelo vírus SARS-CoV-2, com um máximo de 96% para quem perde o olfacto e de 98% para quem perde o sentido do paladar.

O estudo, levado a cabo por elementos de hospitais e instituições de Singapura, notou ainda que a probabilidade de recuperar os sentidos analisados é menor nas mulheres. Foi também concluído que casos de perda de olfacto mais severos – e com congestão nasal associada – tinham menor probabilidade de recuperar este sentido.

Assim, e apesar de a maioria dos infectados voltar a ter olfacto e paladar nos três meses que se seguem ao diagnóstico de covid-19, “um grande grupo de pacientes pode desenvolver uma disfunção de longa duração que requer uma identificação atempada, tratamento personalizado e acompanhamento a longo prazo.

Os investigadores sublinham que os estudos utilizados para esta análise não reportavam a variante associada às perdas de cheiro e sabor. Apesar de sublinharem que a análise excluiu estudos considerados de alto risco, os cientistas reconhecem “limitações” neste trabalho, de que é exemplo a variação na qualidade dos ensaios incluídos na amostra, baseados em auto-avaliação dos sintomas – algo que “pode sobrestimar a recuperação, sugerindo que o verdadeiro peso da disfunção olfactiva é ainda maior”.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários