Operação policial mata 18 pessoas em favela do Rio de Janeiro

Morreram 16 pessoas suspeitas de pertencer a grupos de crime organizado, uma moradora da favela e um agente das forças de segurança, segundo a polícia.

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Polícia entra na favela Complexo do Alemão RICARDO MORAES/Reuters

Pelo menos 18 pessoas, incluindo uma moradora, morreram durante uma operação policial contra o crime organizado no Complexo do Alemão, uma favela do Rio de Janeiro, no Brasil, na quinta-feira.

Das 18 pessoas mortas, 16 são suspeitas de pertencer a grupos de crime organizado, uma era moradora da favela e a última um agente da força de segurança de 38 anos, disse um porta-voz da polícia, numa conferência de imprensa.

A Comissão Nacional de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil disse à agência de notícias AFP ter recebido informações sobre um total de 20 mortos, incluindo o agente da polícia e a moradora.

O coronel Rogério Lobasso, responsável da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro pela operação, lamentou a morte da moradora, Letícia Marinho de Sales, de 50 anos, e disse que o caso está a ser investigado. “Não sabemos como isso aconteceu”, admitiu.

Denilson Glória, que se identificou como namorado da moradora, disse ao site de notícias G1 que a polícia disparou sobre o automóvel em que o casal circulava. “Tinha um [agente] policial no sinal vermelho, nós parámos. Mas eles ainda atiraram no carro. Eu só a vi cair de lado. Quando eu olhei para ela, tinha um buraco no peito”, disse.

O Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, lamentou a morte do agente, Bruno de Paula Costa, sem citar os outros mortos. “Ele morreu após um confronto com bandidos”, disse o chefe de Estado nas redes sociais, criticando ainda o que chamou de dificuldades legais encontradas pelas forças de seguranças para realizar operações nas favelas.

Cerca de 400 membros das forças de segurança participaram na operação, com vários veículos blindados e quatro aeronaves, para enfrentar um grupo especializado no roubo de veículos de transporte de mercadorias e dinheiro.

Vários moradores disseram à imprensa brasileira que as suas casas foram invadidas por agentes durante a operação policial. Vídeos publicados nas redes sociais mostram uma intensa troca de tiros entre as forças de segurança e os suspeitos, que dispararam também contra um helicóptero da polícia.

As autoridades disseram que os agentes foram “atacados violentamente”, com tácticas “militares e de guerrilha”, durante a operação e acusaram alguns suspeitos de usarem civis como escudos humanos.

Esta é a segunda operação policial com um grande número de mortos numa favela do Rio de Janeiro, depois de, em Maio, uma operação na favela Vila Cruzeiro ter deixado 25 pessoas mortas, incluindo 23 suspeitos.

O estado do Rio de Janeiro apresentou em Março um plano para evitar operações com um elevado número de mortes, respondendo a uma ordem do Supremo Tribunal Federal do Brasil. Mas organizações de direitos humanos, que muitas vezes denunciam execuções extrajudiciais durante este tipo de operações, consideraram o documento demasiado vago.

Em 2021, 1356 pessoas foram mortas pelas forças policiais no estado do Rio de Janeiro, o maior número de mortos e feridos em confrontos no Brasil, segundo a organização Monitor da Violência.

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