Bruxelas prevê crescimento recorde de 6,5% para a economia portuguesa em 2022

Projecções de Verão da Comissão Europeia apontam para uma inflação de 6,8% em Portugal este ano.

Foto
EPA/OLIVIER HOSLET

A Comissão Europeia reviu em alta a sua perspectiva para o desempenho da economia portuguesa em 2022 que, de acordo com as projecções de Verão divulgadas esta quinta-feira por Bruxelas, deverá registar um crescimento de 6,5% do Produto Interno Bruto até ao fim do ano, acima dos 5,8% anteriormente estimados.

Portugal mantém-se assim no topo da lista do crescimento económico em 2022, como um dos países da União Europeia que melhor está a resistir ao impacto provocado pela guerra na Ucrânia e o aumento dos preços. Ainda assim, a estimativa da Comissão Europeia é que a taxa de inflação suba para os 6,8% este ano.

Bruxelas divulgou esta quinta-feira as suas previsões para o crescimento económico em 2022, que deverá avançar 2,7% na UE (2,6% na zona euro), um valor que se mantém inalterado face à perspectiva da Primavera mas ainda poderá ser revisto, se se verificar uma deterioração da conjuntura.

“As perspectivas de crescimento são adversas. O risco de uma recessão já é mais do que hipotético. É possível que venha aí uma tempestade, mas de momento ainda não chegou”, preveniu o comissário europeu da Economia, Paolo Gentiloni, numa conferência de imprensa em Bruxelas.

Os números apresentados pela Comissão confirmam o cenário de abrandamento, com as projecções para o próximo ano a serem revistas em baixa, dos 2,3% calculados na Primavera para os 1,4% (zona euro) e 1,5% (UE).

A quebra será ainda mais acentuada em Portugal, que em 2023 não deverá ver o PIB avançar mais do que 1,9%, um valor que está em linha com os restantes parceiros.

“Todos os riscos identificados nas projecções da Primavera acabaram por se materializar”, explicou o comissário da Economia, referindo-se à “evolução da guerra na Ucrânia” e aos “desenvolvimentos negativos nos mercados da energia e das matérias-primas”, que estão por detrás da desaceleração da actividade industrial e da quebra do consumo.

“Vamos passar de uma fase de crescimento lento para uma fase de abrandamento”, antecipou Gentloni, notando que não foi só a procura mundial que caiu após a invasão da Ucrânia pela Rússia. “Houve também um forte efeito no sentimento económico, com a confiança dos consumidores a declinar para o valor histórico registado no início da pandemia, com a perspectiva da perda de poder de compra”, assinalou.

Este ano, Portugal está notoriamente em contraciclo com outras economias europeias, que recuperaram de forma mais rápida da crise pandémica em 2021, mas começaram a perder fôlego após a invasão da Ucrânia pela Rússia, e se encontram agora numa posição menos confortável, sobretudo por causa da disrupção do mercado da energia. É o caso da Alemanha, que em 2022 só deverá crescer 1,4%.

Segundo Gentiloni, a revisão das projecções apresentadas em Maio para o crescimento de Portugal vai um pouco além de um mero ajustamento técnico, com Bruxelas a antecipar resultados positivos da “reabertura do turismo internacional, que é extraordinariamente importante para o país”.

Mesmo assim, o comissário notou que os cálculos que apontam para “um crescimento mais forte do que o esperado” para Portugal reflectem os resultados “substanciais” registados no primeiro trimestre do ano (mais 2,6% do que no trimestre anterior e uma subida de mais de 11% face ao período homólogo) e que “continuam a produzir efeito para o resto do ano”.

Apesar de reconhecer a existência de “dificuldades no sector da aviação”, que podem afectar vários destinos turísticos este Verão, Paolo Gentiloni disse que os dados relativos ao número de passageiros e às reservas de alojamento em Portugal “não são motivo de preocupação”.

Como Portugal, outras economias do Sul da Europa com grande actividade turística, como a Espanha e a Grécia, terão um forte desempenho em 2022, com o PIB a crescer 4%, reduzindo para os 2,1% e 2,4%, respectivamente, em 2023. Em Itália, o crescimento ficará nos 2,9% este ano, caindo para os 0,9% em 2023.

Quanto à inflação, os números apontam para uma convergência dos países da UE em torno de um valor que é historicamente elevado: a previsão da Comissão Europeia é que atinja os 8,3% em 2022, caindo para os 4,5% em 2023. Para a zona euro, está projectada uma taxa de inflação de 7,6% este ano e 4% no próximo.

Vários países serão confrontados com uma inflação de dois dígitos em 2022. Para os países bálticos, mais dependentes do comércio com a Rússia, perspectiva-se uma taxa de 17%; no Leste, o valor não é tão alto mas ainda assim a Polónia terá de lidar com uma inflação de 12,2%.

Sugerir correcção
Ler 31 comentários