Portugal lidera o crescimento da UE em 2022 com subida de 5,8% do PIB

O desempenho da economia nacional em contraciclo com o resto da Europa, onde o efeito da subida da inflação e impacto da guerra na Ucrânia está a provocar uma forte desaceleração. Bruxelas aponta para um crescimento de 2,7% este ano e 2,3% em 2023.

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Comissão Europeia destaca Portugal como o país menos afectado pela conjuntura na união. A reabertura ao turismo ajudou Paulo Pimenta

Em contraciclo com os países da zona euro e com o conjunto da União Europeia, o crescimento da economia portuguesa deverá alcançar os 5,8% em 2022, e fixar-se nos 2,7% no próximo ano, de acordo com as estimativas avançadas, esta segunda-feira, pela Comissão Europeia. Os dois valores correspondem a uma revisão em alta das projecções de Bruxelas relativamente ao desempenho de Portugal, que se destaca como o país menos afectado pela actual conjuntura económica ao nível europeu.

Globalmente, a Comissão Europeia corrigiu em baixa as suas previsões para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2022, para acomodar o efeito provocado pela subida dos preços da energia, matérias-primas e bens alimentares, bem como o impacto da guerra na Ucrânia, que provocou uma forte desaceleração da economia. O crescimento previsto para 2022 na União Europeia foi revisto para 2,7%, em vez de 4%, como antecipado no exercício do Inverno; com o valor para 2023 a ficar também abaixo das previsões anteriores, nos 2,3%.

Como assinalou esta manhã o comissário europeu da Economia, Paolo Gentiloni, as consequências da subida dos preços, disrupção das cadeias de abastecimento e, principalmente das tensões geopolíticas, estão a manifestar-se de “forma muito diferente” nos Estados-membros da UE, com os países do Centro e Leste, mais dependentes do comércio com a Rússia e a Ucrânia, a sofrerem um “choque” maior provocado pela guerra.

“Segundo as nossas projecções, todas as economias da UE vão crescer em 2022, embora de forma desigual”, notou o comissário, que chamou a atenção para o efeito mais negativo da guerra da Ucrânia, que foi o de ter colocado um travão abrupto na recuperação da crise da covid-19 (apesar de, como observou, no início de 2022, PIB de sete Estados-membros ainda permanecer abaixo dos valores pré-pandemia).

“A forte recuperação económica de 2021 terá um curto efeito em 2022 por causa do impacto da guerra”, disse Gentiloni, acrescentando que a situação seria seguramente pior sem as medidas de apoio que “aumentaram a resiliência da UE”, nomeadamente o programa SURE que permitiu salvaguardar postos de trabalho, ou a activação da cláusula geral de escape que “congelou” a aplicação das regras de disciplina orçamental.

A Comissão vai anunciar na próxima semana, na apresentação do pacote de Primavera do Semestre Europeu, se mantém o plano de desactivação da cláusula de escape no final deste ano, ou se propõe o seu prolongamento em 2023. Gentiloni não quis indicar em que sentido é que o executivo está a trabalhar, esta segunda-feira, mas fez questão de dizer que a instabilidade e incerteza, principalmente quanto ao prolongamento da guerra, ainda é grande e “a economia ainda está longe de uma situação normal”.

Ritmo da recuperação mais lento em Portugal

As estimativas para o crescimento dos países da zona euro estão em linha com as do conjunto da UE. Entre os países da moeda comum, Portugal é o que tem o melhor desempenho, seguido da Irlanda, que segundo as projecções registará um crescimento de 5,4%, e da Espanha, com 4%.

Segundo Gentiloni, o país vizinho registou um crescimento no arranque de 2022, mas deverá perder o impulso no segundo semestre do ano. A França, que estagnou no primeiro trimestre de 2022, deverá beneficiar do fim das restrições sanitárias para recuperar o sector dos serviços, e terminar o ano com um crescimento de 3,1%. O valor será de 2,4% em Itália, onde a guerra exacerbou os obstáculos ao crescimento, referiu o comissário italiano. E na Alemanha, os números indicam mesmo uma contracção economia no segundo trimestre, com o país a regressar ao território positivo na segunda metade do ano. Ainda assim, a maior economia da UE só vai crescer 1,6% em 2022.

A economia portuguesa é a única a registar um aumento do valor do PIB de 2021 para 2022 — a recuperação da crise pandémica foi mais lenta no nosso país do que no resto da Europa.

“Houve um ritmo diferente na recuperação da economia portuguesa em 2021, que não foi tão forte em comparação com outros países”, salientou o comissário europeu, que em contrapartida, referiu as “boas perspectivas” para 2022, tanto em termos de crescimento — a reabertura do país ao turismo externo será um dos principais factores, apontou — como na correcção dos desequilíbrios das contas públicas, particularmente da dívida pública, que em 2023 deverá atingir os 115%, abaixo do nível pré-pandémico.

No que diz respeito ao défice orçamental, já em 2021 o país ficou fora do grupo de 15 Estados-membros onde esse valor foi superior aos 3% do PIB, e que nas projecções de Bruxelas aumentará para 17 este ano (em que ainda se aplica a cláusula geral de escape). Em 2023, ainda se estima que onze Estados-membros ultrapassem o limite dos 3% previsto no Pacto de Estabilidade e Crescimento.

Previsão de inflação quase duplica na UE, para 6,8%

Portugal também é o país da UE onde se sentirá menos o impacto da subida dos preços. A Comissão teve de ajustar quase para o dobro as suas previsões para a inflação em 2022, que deverá bater nos 6,8% na UE (6,1% na zona euro) e cair para os 3,2% (2,7% na zona euro) no próximo ano.

Os números portugueses também foram revistos em alta, mas as projecções apontam para uma subida menor do que a média europeia, de 4,4% este ano e 1,9% em 2023.

A expectativa da Comissão é que a inflação atingirá o pico no segundo trimestre deste ano, e que inicie uma redução que ainda será gradual até ao fim de 2022 e mais substancial em 2023. Gentiloni disse que este cenário tinha sido traçado com base nos preços futuros das matérias-primas.

Mas Bruxelas tem cálculos para cenários mais adversos, e até mesmo “severos”, como por exemplo de um corte total do fornecimento de gás russo à Europa, que “levaria a um corte de 1% no crescimento e um aumento de 3% da inflação”, atirando as perspectivas de crescimento para território negativo.

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