Governo britânico recusa abrir espaço na agenda parlamentar para discutir moção de censura dos trabalhistas

Oposição denuncia “abuso flagrante de poder” dos conservadores para “protegerem um primeiro-ministro desacreditado”. Apesar das reduzidas hipóteses de sucesso, o Labour queria votar a moção na quarta-feira.

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Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista, diz que chegou a altura de o país "mudar de Governo" Reuters/MATTHEW CHILDS

O Partido Trabalhista revelou esta terça-feira que o Partido Conservador recusou abrir espaço na agenda parlamentar da Câmara dos Comuns para a discussão e votação de uma moção de censura apresentada contra o Governo do Reino Unido e contra o primeiro-ministro demissionário, Boris Johnson.

Segundo a BBC, Downing Street justificou a sua posição dizendo que as moções são apresentadas contra os governos e não contra os indivíduos – ou ambos.

“Demos ao Labour a opção de apresentar uma votação de censura objectiva ao Governo. Eles optaram por fazer jogos políticos e apresentaram uma moção de confiança ao Governo e ao primeiro-ministro”, explicou um porta-voz do executivo tory.

“Uma vez que o primeiro-ministro já se demitiu e que o processo de [escolha da nova] liderança [conservadora] está em curso, não sentimos que [esta moção] seja uma utilização valiosa do tempo parlamentar”, acrescentou. Recorde-se que Westminster suspende os seus trabalhos no dia 21 e vai de férias até Setembro.

Dizem os tories que o que esteve em causa foi, na verdade, a escolha de palavras do texto apresentado pelos trabalhistas.

Ao invés da tradicional moção redigida para o efeito, que diz que “esta câmara não tem confiança no Governo de Sua Majestade”, o Labour optou por uma versão ligeiramente diferente: “Esta câmara não tem confiança no Governo de Sua Majestade enquanto o Muito Honorável Membro de Uxbridge e de South Ruislip [Johnson] permanecer como primeiro-ministro”.

O porta-voz dos trabalhistas denunciou uma posição “totalmente sem precedentes” dos conservadores e acusou o partido maioritário no Parlamento de estar, “mais uma vez, a mudar as regras para proteger os seus amigos suspeitos”.

“Todos os candidatos à liderança tory deviam denunciar este flagrante abuso de poder para se proteger um primeiro-ministro desacreditado”, criticou.

A iniciativa do Partido Trabalhista tinha como objectivo discutir e votar a moção na quarta-feira e com o fundamento o facto de, nos termos do processo de escolha do próximo líder do Partido Conservador e do Governo do Reino Unido, a revelação do nome do sucessor de Johnson só estar agendada para o dia 5 de Setembro.

Keir Starmer, líder do Labour, defende que “o país precisa de um novo começo, que só será possível com uma mudança de Governo” – leia-se, com eleições antecipadas.

“Depois de terem concluído que [Johnson] é inapto para exercer as suas funções, eles [os conservadores] não podem agora agarrar-se a ele durante semanas e semanas e semanas”, insistiu, esta terça-feira.

Mesmo que ainda vá avante, a moção do Partido Trabalhista está, contudo, condenada ao fracasso, uma vez que os conservadores têm uma confortável maioria parlamentar de 73 deputados na Câmara dos Comuns.

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