Guerra pode terminar “antes do final do dia” se os ucranianos desarmarem “as unidades nacionalistas”, diz o Kremlin

Dmitri Peskov garante que basta o Governo de Kiev dar a ordem de rendição para o conflito terminar. Ministério da Defesa russo afirma que dispararam contra um depósito de armas em Kremenchuk e não contra um centro comercial.

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Número de vítimas do ataque ao centro comercial em Kremenchuk já aumentou para 18 mortos e mais de 50 feridos OLEG PETRASYUK/EPA

As autoridades russas garantiram, esta terça-feira, que as hostilidades em Kiev podem terminar “antes do final do dia”, se o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky ordenar às suas “unidades nacionalistas” que deponham as armas. Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin, respondia às declarações de Zelensky que pedira ajuda aos aliados internacionais para garantir que a guerra terminasse antes da chegada do Inverno e as condições climatéricas tornarem mais difícil os contra-ataques ucranianos.

O lado ucraniano pode acabar com tudo isto antes do final do dia. Só é preciso a ordem para as unidades nacionalistas deporem as armas”, disse Peskov, que também pediu a Kiev que “cumpra todas as exigências russas” de modo a atingir este objectivo. “Tudo o resto é apenas uma especulação do chefe de Estado ucraniano”, concluiu o porta-voz, que garantiu que a Rússia vai continuar com o plano elaborado pelo Presidente Vladimir Putin até à conquista de Kiev.

Foi na cimeira da passada segunda-feira do G7 - que juntou os líderes dos EUA, Reino Unido, Alemanha, França, Itália, Canadá e Japão - que o Presidente ucraniano pediu que todos os esforços fossem feitos de modo a que a guerra termine antes do final do ano, na primeira vez em que Zelensky aludiu a um prazo concreto para o fim do conflito.

Como justificação para esta baliza temporal, o Presidente ucraniano referiu as condições climatéricas mais rigorosas do Inverno que vão deixar a situação no campo de batalha mais adversa para a estratégia de contra-ataque ucraniana, de acordo com fontes diplomáticas citadas sob anonimato pelas agências internacionais. Por isso, acrescentou, os líderes do G7 devem “manter a pressão máxima sobre a Rússia” para que ponha termo à invasão lançada no final de Fevereiro.

Quanto ao incidente no centro comercial de Kremenchuk na passada segunda-feira, que fez pelo menos 18 mortos e mais de 50 feridos, o Ministério da Defesa da Rússia garantiu que as suas forças não dispararam mísseis contra o centro comercial, mas sim contra um depósito de armas, o verdadeiro alvo do ataque.

Este ataque, por sua vez, terá desencadeado uma explosão das munições que acabaram por atingir o centro comercial, desencadeando o incêndio. O Kremlin voltou a dizer que não aponta directamente a alvos civis e que ponham em causa a vida de civis. Contudo, na cimeira do G7 o incidente foi qualificado como “crime de guerra”.

“Em Kremenchuk, as forças russas atingiram um depósito de armas enviadas pelos Estados Unidos e pela Europa, que incluíam armas de alta precisão. Em resultado do ataque, armas e munições de fabrico ocidental guardadas no armazém foram atingidas”, afirmou o ministério numa declaração publicada no Telegram.

“A detonação de munições armazenadas causou um incêndio num centro comercial, que não estava em funcionamento, localizado ao lado do depósito”, acrescentou. Estas informações contrariam a versão ucraniana, dada pelo próprio Zelensky, de que o centro comercial foi atingido directamente por mísseis russos, acrescentando que cerca de mil pessoas estavam no interior na altura do ataque.

O antigo Presidente russo e actual vice-presidente do Conselho de Segurança, Dmitri Medvedev, avisou que a península da Crimeia – território ucraniano anexado pelo Kremlin em 2014 – faz parte da Federação Russa e que qualquer ataque ao território seria considerado uma declaração de guerra contra Moscovo.

“Qualquer tentativa de tomada da Crimeia será uma declaração de guerra ao nosso país”, declarou em entrevista ao jornal russo Argumenti i Fakty. “Se um país da NATO o fizer, será um conflito com toda a Aliança Atlântica, a III Guerra Mundial, uma catástrofe total.”

Medvedev adiantou ainda que uma eventual adesão da Ucrânia à NATO representa um perigo maior para a Rússia do que a Suécia e Finlândia, nações que, segundo o ex-Presidente russo, “têm mantido relações cordiais e respeitosas” com Moscovo.

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