PS sozinho na defesa da Linha Circular do Metro de Lisboa

Com excepção do PS, todos os partidos com assento na Assembleia Municipal de Lisboa pedem a suspensão das obras da Linha Circular de Lisboa.

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A petição contra a Linha Circular foi pela primeira vez em três anos ao Parlamento Daniel Rocha

A Assembleia da República debateu esta quarta-feira a petição apresentada pelo movimento “Contra o Fim da Linha Amarela” que deu entrada no Parlamento em Março de 2019 e que solicita a suspensão do projecto da linha circular do Metro de Lisboa, que já se encontra em curso.

A pedido do Bloco de Esquerda, do PAN e do PSD, foi discutida a petição assinada por 4366 cidadãos que descrevem os problemas de mobilidade que a linha circular irá provocar a milhares de utilizadores que vivem no Norte de Lisboa. O novo desenho da linha significa que os passageiros que apanham o metro no concelho de Odivelas e na parte alta da cidade são obrigados a mudar de linha na estação de Campo Grande para se conseguirem deslocar para zonas como a Cidade Universitária, o Rato ou o Marquês de Pombal, porque vão transitar para a linha verde.

O Bloco de Esquerda apoia a suspensão do projecto da Linha Circular porque está a ser feito um investimento que não “serve a população da Área Metropolitana de Lisboa”. O Bloco afirma que o Partido Socialista está a apoiar “o metro do turismo, fechado sobre si mesmo”, e que não serve “quem necessita”, porque a expansão da linha não está a ser feita para as pessoas que se deslocam todos os dias para o centro da cidade para trabalhar.

Também a deputada única do PAN, Inês Sousa Real, afirma que Lisboa não pode ficar refém do turismo e “de um projecto que não serve o interesse dos utilizadores que o frequentam diariamente”. Sublinha que a linha circular irá incentivar o uso de transporte pessoal e prejudicar o ambiente.

O PCP recorda o Orçamento do Estado de 2020 que não foi respeitado pelo PS, impondo ao país uma proposta que “serve os interesses mobiliários e do turismo e não contribui para resolver os problemas da mobilidade”. Como os restantes partidos, realçam que a solução irá aumentar o transbordo na estação de Campo Grande. O Chega realça novamente os problemas de mobilidade que irão ser causados e apela a que sejam realizados novos estudos independentes.

O projecto da “Linha em Laço” apresentado esta quarta-feira pelo PSD “garante manter a ligação de toda a rede sem a necessidade de transbordos, o que vai ao encontro das necessidades das pessoas” que vivem em zonas afastadas do centro. De acordo com António Prôa, deputado do PSD, a “Linha em Laço” foi estudada e tem em consideração a diferença de frequências necessárias ao longo da linha. Garante manter a ligação de toda a rede ao centro da cidade não sendo necessários transbordos, ao contrário da proposta defendida pelo PS.

Todos os partidos rejeitam o plano de expansão do Metro de Lisboa. Recordam que o governo ignorou a vontade da Assembleia da República, da Câmara Municipal de Lisboa e não respeitou o Orçamento do Estado de 2020, que previa a suspensão dos trabalhos de construção da Linha Circular do Metro de Lisboa. O PS está sozinho nesta decisão.

Em sua defesa, o PS afirma que o projecto da expansão da linha do metro foi objecto de vários estudos e uma análise cuidada, mas que a oposição só acredita “em estudos que sejam para validar” as suas posições. Explica que vão ser desperdiçadas verbas caso as obras sejam suspensas e volta a afirmar que os benefícios da linha irão reduzir a emissão de CO2, o uso de transporte individual e aumentar a utilização do metro. Diz que é “falso que o transbordo em Campo Grande seja obrigatório” porque é possível fazer o mesmo trajecto utilizando os “comboios de Odivelas até ao Cais do Sodré”. Adiciona que foi assinado um protocolo entre o munícipe de Loures, Odivelas e o Metropolitano de Lisboa para dar concretização a “um projecto de expansão do terminal intermodal da actual linha amarela do Metropolitano a partir da expansão de Odivelas” com continuidade entre os dois concelhos.

O Partido Socialista termina a intervenção a afirmar que em 2019 foi aprovada a expansão da linha do metro na Câmara Municipal de Lisboa, com votos do PS, PCP e a abstenção do PSD.

A Iniciativa Liberal alerta para os impactos financeiros, ambientais e sociais da Linha Circular, que “nunca deveria ter sido uma opção”. Já o Livre afirma que “este tipo de debates” não são úteis para o esclarecimento da população e a resolver os problemas das infra-estruturas e investimentos em Portugal.

O Partido Socialista está em “contramão na auto-estrada”

O porta-voz do movimento “Contra o Fim da Linha Amarela” Paulo Sousa, lamenta que um grupo parlamentar com muita força pareça estar em “contramão na auto-estrada”, onde fazem transparecer que os outros partidos políticos, os cidadãos e os grupos parlamentares “são todos uns incompetentes”. Esperavam que desta sessão algo ficasse resolvido, mas que, infelizmente, não foi possível devido a “um determinado grupo político à margem da lei, que não cumpriu um Orçamento do Estado”, ignorou as resoluções deste Parlamento e avançou “contra tudo e contra todos, inclusive contra a lei”.

Paulo Sousa não aceita este desfecho porque a expansão vai prejudicar a população, não só da zona norte de Lisboa, mas também das outras cidades da Área Metropolitana. Diz que o PS não fez um esforço para ouvir as opiniões das restantes vozes no debate, o que “é grave”.

Jorge Mendes, que também faz parte do movimento, afirma que a situação é frustrante porque a maioria dos utilizadores do metro não estão informados sobre o que realmente é a Linha Circular. “Só o tempo irá demonstrar que este investimento é errado”.

Destacam vários pontos que foram assinalados na petição como, por exemplo, os problemas estruturais em zonas como a Estrela ou a Avenida 24 de Julho, uma área que foi construída sobre estacas, após o terramoto de 1755.

Utilizador frequente do Metro de Lisboa, Simão Pedro Guedes, 23 anos, também esteve presente durante a sessão da Assembleia da República como forma de apoio aos milhares de pessoas que irão ser prejudicadas. “Quem está fora da Linha Circular é mais prejudicado e será um prejuízo na mobilidade da cidade”. Partilha que seria mais benéfico expandir para áreas que ainda não têm este tipo de serviço, como por exemplo a Ajuda.

Os membros do movimento mostram-se desiludidos com o desfecho, porque várias pessoas contribuíram na petição para que houvesse um debate. “Organizamo-nos porque a medida não fazia sentido. Falamos com técnicos e antigos funcionários do metro”. O porta-voz explica que tentaram alertar para os riscos da construção mas foram sempre ignorados pelo Governo. Após a petição ter chegado ao Parlamento, e ter sido aprovado em Orçamento do Estado a suspensão da Linha Circular, afirma que “só foram ultrapassados por um partido que não está a cumprir a lei” e a ignorar a segunda medida legislativa mais forte do país.

“Temos um país que vira as costas aos seus cidadãos e que, posteriormente, reclamam da cidadania e da abstinência de votos”. Apesar da “falta de educação” que afirmam ter havido por parte do deputado Pedro Anastácio do PS, vão continuar a analisar outras iniciativas, como por exemplo, a solução apresentada pelo PSD, que permite que os utilizadores do norte ainda tenham acesso sem transbordos e possibilita o crescimento da linha.

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