Subestimar o investimento em R&D na saúde é um erro estratégico

É o momento de apostar na construção de um ecossistema nacional de investigação clínica robusto, que trará seguramente ganhos de sustentabilidade e de saúde relevantes a curto, médio e longo prazo.

A qualidade dos cuidados de saúde está intimamente relacionada com o envolvimento das instituições prestadoras de cuidados de saúde em atividades de investigação clínica. Este facto, sobejamente conhecido na literatura, deveria nortear os planos estratégicos orientadores das políticas de saúde a nível global e, obviamente, também em Portugal.

Por forma a contextualizar o tema, importa rever, brevemente, como tem evoluído a investigação e inovação clínica no nosso país e qual o papel dos diferentes intervenientes neste processo. Portugal apresenta uma evolução muito significativa na área da investigação biomédica fundamental nas últimas três décadas, quer em termos de produtividade científica quer no número de investigadores diferenciados; curiosamente este percurso de sucesso faz-se com níveis de investimento em investigação e desenvolvimento (vulgo R&D) que melhoraram, mas continuam aquém da média dos países europeus: em 2020, Portugal investiu apenas 1,62% do produto interno bruto (PIB) em R&D, em contraste com a média de 2,32% da União Europeia, segundo a Eurostat.

Infelizmente, esta progressão positiva no panorama da investigação biomédica fundamental não se verificou na área da investigação clínica no país, porque a saúde está entre os setores em que os níveis de investimento em R&D são menos significativos e a infraestrutura e contexto em que a investigação clínica opera não são favoráveis.

Como ficou amplamente demonstrado pela pandemia, subestimar o investimento em R&D na saúde é um erro estratégico que compromete os desafios traçados para Portugal, bem como a qualidade dos cuidados de saúde. É, portanto, o momento para inverter este cenário de uma forma irreversível, apostando na construção de um ecossistema nacional de investigação clínica robusto, que trará seguramente ganhos de sustentabilidade e de saúde relevantes a curto, médio e longo prazo.

Igualmente decisivo, é o alinhamento de esforços e estratégias pelos diferentes intervenientes no processo de investigação clínica. As autoridades devem focar-se em facilitar a aprovação eficiente e rigorosa dos estudos, promovendo assim um contexto favorável e atrativo para a realização dos mesmos no país. Os investigadores e os centros de investigação devem assumir uma postura pró-ativa e empenhada no desenho e desenvolvimento dos estudos clínicos, garantindo taxas de recrutamento e tempos de resposta que promovam um ambiente de confiança para a investigação clínica e para a sua concretização.

Por último, os promotores (sobretudo os que operam a partir de Portugal) devem assumir um compromisso claro e inequívoco para alcançar estas metas, atraindo estudos clínicos internacionais para o país e estimulando a sua realização pelos investigadores clínicos em Portugal, como é bom exemplo o Prémio MSD Investigação em Saúde. Esta iniciativa, que promove a realização de estudos clínicos de grande qualidade por jovens investigadores, representa um estímulo inequívoco para estes clínicos-investigadores que, recorde-se, asseguram o presente e o futuro dos cuidados de saúde em Portugal.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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