Dinamarqueses votam em referendo se aderem à política de segurança e defesa da UE

Invasão russa da Ucrânia fez o país repensar a sua posição que foi estabelecida como excepção no Tratado de Maastricht em 1993. Sondagens mostram o sim à mudança com uma grande vantagem.

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Jakob Ellemann-Jensen, líder do Partido Liberal e a primeira-ministra, Mette Frederiksen, no debate de terça-feira à noite na televisão dinamarquesa sobre o referendo PHILIP DAVALI/EPA/

Os dinamarqueses votam esta quarta-feira em referendo se se juntam ou não à política de defesa da União Europeia (UE), numa altura em que invasão da Ucrânia pela Rússia forçou os Estados-membros a reavaliar radicalmente a sua segurança

A Dinamarca é, por esta altura, o único membro dos 27 que não adoptou a Política Comum de Segurança e Defesa, tendo assegurado a sua isenção dessa política e da zona euro no referendo de 1993 sobre o Tratado de Maastricht, que estabeleceu as bases para a moderna UE.

Se os dinamarqueses, habituais críticos da UE, votarem para abolir a sua opção de ficar de fora, como sugerem as sondagens, isso significará outra mudança significativa de política na Europa depois da invasão da Ucrânia pela Rússia em Fevereiro.

A Suécia e Finlândia decidiram pedir a sua adesão à NATO, enquanto a Alemanha e a Dinamarca prometeram aumentar substancialmente os seus gastos na defesa.

“Claro que a NATO continuará a ser a nossa ferramenta mais importante, mas a UE permite-nos ter outro instrumento para assegurar a nossa defesa no leste”, afirmou Mogens Jensen, o porta-voz para a defesa dos sociais-democratas, partido no poder.

A Dinamarca é um dos membros fundadores da NATO, mas a principal potência militar da Aliança Atlântica, os Estados Unidos, sublinharam que os aliados europeus têm de ter maior responsabilidade sobre a sua própria segurança.

A participação na Política Comum de Defesa e Segurança permitirá à Dinamarca participar em operações militares conjuntas da UE, como na Somália, Mali e Bósnia.

E embora a UE beneficie da larga experiência dinamarquesa em operações militares, como parte da NATO e de outras alianças, a vitória do “sim” no referendo desta quarta-feira será vista essencialmente como uma vitória simbólica de Bruxelas, de acordo com Kristian Soby Kristensen, investigador sénior do Centro de Estudos Militares da Universidade de Copenhaga.

“O significado político suplantará a contribuição militar”, disse Kristensen à Reuters.

Uma grande maioria no Parlamento recomenda que o país abdique da opção de ficar de fora.

O referendo desta quarta-feira será a terceira tentativa dos deputados dinamarqueses para conseguir alterar as excepções que o país negociou no Tratado de Maastricht, depois da votação fracassada sobre o euro em 2000 e a questão da justiça e de administração interna em 2015.

As sondagens mostram uma liderança destacada para a votação favorável ao fim do regime de excepção, com quase 48% dos dinamarqueses a optarem pelo sim e 31% pelo não.

Os defensores do não argumentam que a cooperação em matéria de defesa na UE está condicionada pela burocracia e pelo deficiente processo de decisão, ao mesmo tempo que manifestavam o seu receio de ver o país a contribuir para um potencial exército supranacional da União.

A UE não tem planos para estabelecer um exército supranacional dentro do bloco, mas decidiu constituir uma força de intervenção rápida de 5000 soldados.

As urnas abrem às 06h da manhã desta quarta-feira e encerram às 18h e o resultado deve ser anunciado durante a noite.

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