Governo da Etiópia já deteve 19 jornalistas com a acusação de colaborarem com os rebeldes do Tigré

Apesar de estar em vigor um cessar-fogo, o executivo de Abiy Ahmed avisou na semana passada que tomaria medidas contra quem quisesse “causar o caos, incluindo jornalistas”.

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A guerra civil já provocou mais de dois milhões de deslocados internos Reuters/BAZ RATNER

As autoridades da Etiópia detiveram 19 jornalistas e outros profissionais de comunicação desde meados do mês sob a acusação de cooperarem com os rebeldes do Tigré.

As detenções ocorreram sobretudo nas regiões de Amhara e Oromia, para onde se estendeu a sangrenta guerra civil que opõe o Governo às forças da Frente de Libertação do Povo Tigré desde o final de 2020. O primeiro-ministro, Abiy Ahmed, decretou em Março um cessar-fogo por tempo indeterminado para que a ajuda humanitária pudesse chegar às zonas mais afectadas pelo conflito.

Mas na semana passada avisou que a trégua não significava inacção. “O Governo continuará a tomar medidas contra indivíduos envolvidos em actividades ilegais que estejam a planear e a trabalhar para causar o caos, incluindo aqueles que usam a cobertura dos meios de comunicação social e jornalistas”, disse o executivo em comunicado.

A mais recente detenção foi a de Meaza Mohammed, co-fundadora e apresentadora da Roha TV, que tem denunciado assassínios e raptos alegadamente cometidos pelo Exército etíope. A jornalista do canal televisivo no YouTube já antes tinha sido detida. Da última vez esteve mais de um mês sem ser apresentada a um juiz antes de ser libertada, a 18 de Janeiro.

A lista de jornalistas levados das redacções ou de suas casas pela polícia estende-se a pelo menos mais quatro órgãos de comunicação.

“O Governo não tem qualquer respeito pela liberdade de imprensa e pelo direito dos cidadãos à informação”, comentou Angela Quintal, directora para África do Comité para a Protecção dos Jornalistas, pedindo “a libertação imediata de todos eles”. Também o director da Comissão para os Direitos Humanos da Etiópia denunciou o comportamento das autoridades. “Nenhuma alegação acerca de supostos crimes cometidos através dos media justifica a violação da lei recentemente adoptada, que proíbe claramente as detenções preventivas de pessoas acusadas desses delitos”, afirmou Daniel Bekele.

Mais de dois milhões de pessoas foram forçadas a deixar as suas casas por causa da actual guerra civil e centenas de milhares têm carências alimentares graves, dependendo de ajuda humanitária para sobreviver. Ambos os lados do conflito se acusam mutuamente de crimes de guerra, massacres e violações.

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