União Europeia “chocada” com denúncias de limpeza étnica no Tigré

Relatório da Amnistia Internacional e da Human Rights Watch acusa as forças de segurança da região de Amara, e também o Governo central etíope, de quererem “suprimir os direitos e a presença dos tigrés” no noroeste da Etiópia.

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Etíopes em fuga da região de Tigré, no norte da Etiópia Reuters/MOHAMED NURELDIN ABDALLAH

A União Europeia apelou, este sábado, à abertura de uma investigação independente, com carácter de urgência, sobre as denúncias de violações dos direitos humanos e de limpeza étnica na zona oeste da região etíope de Tigré, no norte da Etiópia.

Segundo um relatório publicado na quarta-feira, assinado pelas organizações de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) e Amnistia Internacional (AI), as forças de segurança de Amara — a região etíope vizinha de Tigré — “são responsáveis por execuções extrajudiciais, violações e outros actos de violência sexual” contra a etnia tigré desde o início da guerra civil na região, em Novembro de 2020.

“Os tigrés têm sido alvo de detenção arbitrária e prolongada em massa, em centros de detenção formais e informais onde são mortos, torturados e vítimas de outros maus-tratos”, dizem as organizações não-governamentais, que acusam também as autoridades de Amara de negarem o acesso dos tigrés a serviços básicos e a ajuda humanitária, e de os proibirem de falar na sua língua — “com a cumplicidade dos responsáveis do Governo federal etíope”.

As medidas que estão a ser aplicadas “parecem ter sido preparadas para suprimir os direitos e a presença dos tigrés” na zona oeste da região de Tigré, o que leva as organizações a responsabilizarem as forças de Amara por uma campanha de limpeza étnica.

“Como fica claro neste relatório, a campanha de limpeza étnica no oeste de Tigré foi levada a cabo através de graves violações dos direitos humanos e violações da lei humanitária internacional, incluindo crimes de guerra e crimes contra a humanidade”, lê-se na introdução do relatório publicado na quarta-feira.

Este sábado, a porta-voz da União Europeia para os assuntos de segurança e política externa, Nabila Massrali, deu conta do “choque” provocado pelas investigações da AI e da HRW. E pediu a abertura de uma investigação independente, sob os auspícios da Comissão Internacional de Especialistas em Direitos Humanos na Etiópia, criada em Dezembro de 2021.

“A União Europeia reitera os seus apelos ao Governo [etíope] para que colabore com a comissão, para que as investigações possam começar imediatamente”, disse a porta-voz.

“A União Europeia condena todas as violações dos direitos humanos, abusos e violações da lei internacional dos direitos humanos, cometidos no norte da Etiópia desde o início do conflito”, lê-se no comunicado.

Em Fevereiro, a Amnistia Internacional acusou também as forças rebeldes da região de Tigré de terem assassinado dezenas de pessoas em 2021 região vizinha de Amara.

Segundo a organização, combatentes da Frente de Libertação do Povo Tigré (TPLF) — o partido que governou a região antes do início do conflito também cometeram dezenas de violações em grupo contra mulheres e raparigas e saquearam propriedades em duas cidades de Amara, uma região leal ao Governo etíope.

A guerra eclodiu quando o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, ordenou uma ofensiva armada contra o TPLF, em retaliação de um ataque a uma base militar federal em Tigré e na sequência de uma escalada de tensões políticas.

Segundo a ONU, mais de cinco milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária em Tigré, Amara e na região vizinha de Afar. Milhares de pessoas morreram e cerca de dois milhões foram forçadas a fugir das suas casas devido à violência.

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