Secretário de Estado da Saúde aguarda que DGS faça estudos mais alargados sobre a mortalidade em excesso

O secretário de Estado Adjunto e da Saúde reagiu à notícia do PÚBLICO que dava conta que segundo a DGS a covid só explicou dois dos seis períodos de elevada mortalidade em 2020.

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A Direcção-Geral da Saúde divulgou o relatório da mortalidade de 2020 António Pedro Santos/LUSA

O secretário de Estado Adjunto e da Saúde afirmou este sábado que a “a mortalidade não deve ser avaliada nem analisada isoladamente, ano a ano”.​ António Lacerda Sales foi questionado sobre as conclusões do relatório da Direcção-Geral da Saúde (DGS) que analisou a mortalidade ocorrida entre Dezembro de 2019 e Janeiro de 2021 em Portugal, para concluir que dos seis momentos em que houve um pico de mortes acima do expectável só dois eram explicados pela covid-19, como avançou o PÚBLICO.

“A mortalidade deve ser avaliada numa coorte, num determinado número de anos, para que se possa fazer uma análise mais detalhada, mais gradual, mais progressiva, daquilo que são, de facto, as verdadeiras causas dessa mortalidade. Devemos esperar por outros estudos da Direcção-Geral de Saúde, estudos que façam uma avaliação no tempo e durante um conjunto de anos, para que depois se possam tirar as conclusões correctas sobre essa mortalidade”, disse.

Ao PÚBLICO, o responsável pela Direcção do Serviço de Informação e Análise da DGS afirmou que não foi possível “ir para lá dos números” no relatório sobre “Mortalidade Geral e por Grandes Grupos de Causas” de 2020. “Este relatório tem um propósito descritivo. Mas isto tem que ser estudado. Tirando a covid-19, é natural que a mortalidade aumente com o envelhecimento da população. Haverá também certamente óbitos que se deverão indirectamente à covid. Não conseguimos é nesta fase quantificar, saber com exactidão. É uma necessidade de investigação identificada para futuro.” E acrescentou que quem habitualmente faz esse tipo de investigação é a academia.

O Secretário de Estado Adjunto e da Saúde falou depois da questão do aumento do recurso a médicos em regime de prestação de serviços, os chamados tarefeiros, que acabam por ganhar à hora muito mais do que qualquer profissional do quadro hospitalar. Uma reportagem da SIC apresentou o testemunho de uma médica anestesista do Hospital Fernando Fonseca, na Amadora, que relatou que na sua equipa houve médicos que, chegados ao termo dos contratos, ficaram a trabalhar para o hospital, mas como tarefeiros, o que lhes permite ter mais tempo disponível e ganhar mais à hora. Neste hospital chegou a pagar-se 90 euros à hora a um médico especialista, quando o valor das horas extraordinárias para um médico a contrato é de 20 euros (valores ilíquidos).

António Lacerda Sales, que visitou ao projecto “Saúde no Bairro”, na Amora, concelho do Seixal, lembrou, que Portugal se debate com a falta de médicos, pelo que a estratégia para recorrer cada vez menos a médicos em regime de prestação de serviços, preocupação que diz estar “bem plasmada no artigo 37 da Lei do Orçamento de Estado” de 2022, “depende da regulação do mercado, da oferta e da procura”.

“Acabei de falar de um artigo do Orçamento de Estado que tem exactamente essa preocupação, que é de conseguirmos, gradualmente - mas tem que se perceber que é um processo -, de irmos substituindo prestações de serviços por contratação de médicos em trabalho subordinado nas instituições”, acrescentou o secretário de Estado.

Sobre a evolução da Monkeypox (varíola dos macacos), com 74 casos de infecções confirmadas em Portugal, António Lacerda Sales diz não haver motivo para alarme, mas considera que é preciso prevenir comportamentos de risco.

“As pessoas que perceberem que têm a sintomatologia devem manter medidas de auto-isolamento. Não havendo motivos para alarme, nesta fase, devemos, de uma forma tranquila e serena, monitorizar e fazer a avaliação”, disse o governante, lembrando que o INSA (Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge) está a fazer o acompanhamento dos casos de infecção em tempo real.

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