Lucros do Banco de Portugal descem para 508 milhões de euros

Aumento dos empréstimos concedidos aos bancos a taxas de juro negativas contribuíram para redução ligeira dos resultados líquidos do banco central em 2021. Dividendos entregues ao Estado diminuíram de 428 para 406 milhões de euros

Foto
Mário Centeno, governador do Banco de Portugal Rui Gaudencio

Os juros cada vez mais negativos praticados nos empréstimos concedidos aos bancos comerciais foram o principal contributo para a ligeira redução dos lucros do Banco de Portugal no ano passado, que resultou também numa diminuição dos dividendos distribuídos ao Estado.

No Relatório de Actividade e Contas do Banco de Portugal relativo a 2021, a entidade liderada por Mário Centeno apresentou, esta terça-feira, um resultado líquido positivo de 508 milhões de euros. É um valor que representa uma descida face aos 535 milhões de euros de lucros registados no ano passado e que prolonga a tendência de descida que se verifica já desde 2018, ano em que os resultados líquidos atingiram um máximo histórico de 806 milhões de euros.

Uma das consequências da descida dos resultados líquidos é a diminuição dos dividendos distribuídos pelo Banco de Portugal ao seu accionista, o Estado. Este ano, por conta dos resultados de 2021, o valor entregue aos cofres públicos pelo banco central é de 406 milhões de euros, quando no ano passado os dividendos foram de 428 milhões de euros.

Apesar da descida, tanto os resultados como os dividendos entregues ao Estado acabaram por ficar ligeiramente acima do valor que era projectado pelo banco central no início de 2021. O desvio positivo dos resultados foi de 40 milhões de euros, algo que é explicado pelo banco com a realização de mais-valias em operações financeiras realizadas nos mercados.

Uma das principais explicações para a diminuição do resultado líquido do banco central registada em 2021 está, assinala o relatório, no “aumento dos juros a pagar associados a operações de refinanciamento de prazo alargado”.

Aquilo que aconteceu foi que, em meados de 2020, para ajudar a combater o impacto económico da pandemia, foram lançadas operações de financiamento aos bancos comerciais em condições muito favoráveis, com taxas de juro negativas. Na prática, o banco central pagou juros aos bancos comerciais para lhes emprestar dinheiro e, em 2021, essas condições favoráveis estiveram em vigor no ano todo.

Só isso contribuiu para um aumento das despesas com juros do Banco de Portugal de 184 milhões de euros em 2021 (passaram de 202 milhões para 385 milhões de euros).

Em compensação, sempre que os bancos comerciais depositaram os seus excedentes de tesouraria no Banco de Portugal, a taxa de juro aplicada também foi negativa. E como esses depósitos aumentaram, os juros recebidos pelo banco central cresceram 108 milhões de euros, ainda assim um valor insuficiente para compensar a subida dos juros pagos aos bancos.

No que diz respeito aos ganhos conseguidos pelo banco central com os títulos de dívida pública que comprou em grandes quantidades nos últimos anos, registou-se em 2021 uma ligeira descida, de 882 para 845 milhões de euros.

No que diz respeito à dimensão do balanço do banco central, manteve-se a tendência de crescimento que se verifica nos últimos anos, principalmente por causa da compra de títulos de dívida pública que é efectuada, seguindo a estratégia de política monetária do Banco Central Europeu. O valor do balanço atingiu em 2021, os 219 mil milhões de euros. Quase 10% desse valor (19,8 mil milhões de euros) corresponde às reservas de ouro, que estão estáveis em 383 toneladas, mas cujo valor aumentou em 2021 em quase 1000 milhões de euros.

Sugerir correcção
Comentar