Pedro Amaral dirige a Sinfónica da RAI no La Scala em concerto pela paz

Actuação integrada no Festival de Música de Milão realiza-se esta noite. Do programa constam obras de dois compositores russos, Sofia Gubaidulina e Shostakovich. Ao lado do director de orquestra português estará o violinista belga de origem russa Vadim Repin.

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Pedro Amaral é compositor e maestro DB Diogo Baptista

Numa altura em que a cultura russa continua a ser cancelada um pouco por todo o ocidente, o Festival de Música de Milão decidiu manter o programa que esta segunda-feira será dirigido pelo maestro português Pedro Amaral na mais prestigiada sala da cidade, o Teatro La Scala, teatro lírico de referência a nível mundial.

Dois compositores russos, Sofia Gubaidulina e Dmitri Shostakovich, fazem parte do menu da noite, que fica completo com o estoniano Arvo Pärt. Pedro Amaral conduzirá a Orquestra Sinfónica Nacional da RAI de Turim e ao seu lado terá Vadim Repin, um violinista belga nascido na Rússia.

Foi com este solista em mente, aliás, que Gubaidulina e Pärt escreveram as obras que serão interpretadas no Scala Dialog: Ich und Du, Concerto para violino e orquestra n.º 3, da primeira, e La Sindone (2005-2022) –, juntamente com a Sinfonia n.º 15 em Lá Maior de Shostakovich, disse Pedro Amaral ao PÚBLICO.

Para o maestro este concerto será “especial”, por ser raro um português dirigir no Scala, mas também pelas obras que serão interpretadas: “[O concerto] foi programado muito antes da actual situação geopolítica, mas, neste momento em que se assiste a tantas tentativas de cancelamento da cultura russa, de Tchaikóvski a Dostoiévski, assume um carácter inevitavelmente simbólico”, acrescentou Amaral, num breve email.

A Sinfonia n.º 15 em Lá Maior (1971) é a última de Shostakovich, um compositor intensamente perseguido pelo regime de Estaline, na antiga União Soviética.

O concerto, que começa às 20h (19h em Portugal continental e Madeira) e homenageia uma das fundadoras do festival, Luciana Pestalozza, e o maestro Claudio Abbado, faz parte do 31.º Festival de Música de Milão, uma edição que a organização quis dedicar à paz e que tem 10% das suas receitas a reverter para os refugiados ucranianos, forçados a deixar o seu país na sequência da invasão russa de 24 de Fevereiro.

O violinista Vadim Repin dedica “o concerto à paz e aos valores democráticos da humanidade, fraternidade e solidariedade entre os povos”, lê-se no programa, doando o seu cachet ao Fondo per la Nuova Musica Milano, instituído pelo festival.

Pedro Amaral (n. 1972), maestro e compositor que dirigiu a Orquestra Metropolitana de Lisboa de 2013 a 2020, é hoje professor na Universidade de Évora.

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