Covid-19. Sexta vaga “a começar a desenhar-se” em Portugal

A eliminação do uso de máscara aumentou as infecções em Portugal, que atingiu um índice de transmissibilidade (Rt) de 1,17 e que poderá registar uma sexta vaga de covid-19, indica um relatório do Instituto Superior Técnico sobre a pandemia. Marca dos 20 mil novos casos diários ultrapassada pela primeira vez desde 15 de Fevereiro.

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A eliminação do uso de máscaras “parece ter tido um efeito muito acentuado na subida de casos actual”, diz relatório Reuters/BRENDAN MCDERMID

A eliminação do uso de máscara aumentou as infecções em Portugal, que atingiu um índice de transmissibilidade — R(t) — de 1,17 e que poderá registar uma sexta vaga de covid-19, indica um relatório do Instituto Superior Técnico sobre a pandemia.

“A possibilidade de uma sexta vaga está a desenhar-se de forma muito intensa”, avança o relatório do grupo de trabalho do Instituto Superior Técnico (IST) que acompanha a evolução da covid-19 em Portugal e a que a Lusa teve acesso.

Segundo esta avaliação de risco da pandemia elaborada por Henrique Oliveira, Pedro Amaral, José Rui Figueira e Ana Serro, que compõem este grupo de trabalho coordenado pelo presidente do IST, Rogério Colaço, “a actual situação é de aumento do perigo pandémico face ao anterior relatório” de 19 de Abril.

No entanto, no relatório anterior a esse, publicado no início de Março, este grupo do IST já tinha apontado para o início de uma “sexta vaga”. “Estamos a ver o desenho de uma sexta vaga de forma muito clara. O risco pandémico ainda não é muito elevado, mas é necessário perceber como vai continuar a evolução dos números”, lia-se então na análise elaborada por este grupo de acompanhamento da pandemia.

De acordo com o relatório mais recente, esta quarta-feira publicado, a eliminação do uso de máscaras “parece ter tido um efeito muito acentuado na subida de casos actual”, uma medida que os especialistas do IST consideram ter sido “acertada” nas escolas, mas que está a provocar um “excesso de contágios” em ambiente laboral.

“A sua eliminação em contexto laboral e a não recomendação de teletrabalho quando este é possível, provoca um excesso de contágios que, segundo os nossos modelos, está a contribuir fortemente para a subida presente” de infecções, sublinha ainda o relatório do IST.

O uso generalizado de máscaras deixou de ser obrigatório a partir de 22 de Abril, com excepção dos estabelecimentos de saúde, incluindo farmácias comunitárias, assim como nos lares de idosos, serviços de apoio domiciliário, unidades de cuidados continuados e transportes colectivos de passageiros.

Esta segunda-feira registaram-se 20.482 diagnósticos de covid-19. Foi a primeira vez, desde 15 de Fevereiro, que foi ultrapassada a marca dos 20 mil novos casos num só dia, de acordo com os dados de acompanhamento diário da Direcção-Geral da Saúde.

O grupo de trabalho do Técnico considera também que os dados existentes indicam que as novas linhagens da variante Ómicron do coronavírus SARS-CoV-2 podem estar a contribuir para o aumento do número de casos.

Na terça-feira, a Organização Mundial de Saúde (OMS) adiantou que as linhagens BA.4 e BA.5 da variante Ómicron do coronavírus são mais transmissíveis do que a BA.2, mas ainda não há dados para apurar se provocam covid-19 mais grave. Em conferência de imprensa, Maria Van Kerkhove, responsável da OMS, referiu que a BA.2 continua a ser a linhagem predominante no mundo, tendo-se sobreposto à BA.1 em termos de circulação nos vários países onde foram detectadas.

Os últimos dados do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (Insa) estimam que a linhagem BA.2 da variante Ómicron seja ainda responsável por 73,8% das infecções registadas em Portugal, mas essa percentagem tem vindo a baixar nas últimas semanas.

Face à “tendência de agravamento significativo” da pandemia em Portugal, os especialistas do IST admitem que a recente subida de casos positivos de SARS-CoV-2 “provavelmente contribuirá” para o aumento da mortalidade nos próximos 30 dias. O pico deste indicador na recente vaga da Ómicron foi registado em 6 de Fevereiro e os óbitos diários em média a sete dias passaram de 20.9 para os actuais 20.3.

De acordo com o relatório do IST, a incidência média a sete dias aumentou de 8.763 para 14.267 casos desde 19 de Abril, o que se deve “à retirada abrupta do uso de máscara em quase todos os contextos e à nova linhagem BA.5 da variante Ómicron que começa a instalar-se” no país.

Com dados de 9 de Maio, o grupo de trabalho adianta que o Indicador de Avaliação da Pandemia (IAP) do Instituto Superior Técnico e da Ordem dos Médicos está agora nos 83.8 pontos, com tendência de subida e acima do “nível de alarme”.

O IAP combina a incidência, a transmissibilidade, a letalidade e a hospitalização em enfermaria e em cuidados intensivos, apresentando dois limiares: o nível de alarme, quando atinge os 80 pontos, e o nível crítico, quando chega aos 100 pontos.

“Aconselhamos o reforço da monitorização e passar a mensagem de que o perigo pandémico ainda não terminou”, destaca ainda o relatório, que acrescenta que a “monitorização dos números da pandemia deve ser feita de forma rigorosa e transparente até a declaração de fim da pandemia” pela Organização Mundial da Saúde.

“Para efeitos de análise, previsão e de comunicação, o facto de a Direcção-Geral da Saúde apresentar os dados dos internamentos à sexta-feira com dados relativos à segunda-feira anterior constitui um défice de informação devida ao público e à comunidade médica e científica que evita a prevenção e a tomada de medidas por parte dos serviços”, alerta ainda o relatório.

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