Quebra nos cereais fez descer importações da Rússia em Março

Primeiro mês de guerra já mostra mudanças nas relações comerciais de Portugal com a Rússia e com a Ucrânia.

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Compras de cereais à Rússia passaram de 15,5 milhões em Fevereiro para zero em Março Reuters/VALENTYN OGIRENKO

O valor das importações de produtos russos por Portugal atingiu os 152,9 milhões de euros em Março, o que representa uma diferença de menos 2,8% face ao mês anterior. De acordo com os dados do INE, naquele que foi o primeiro mês a reflectir os efeitos da invasão da Ucrânia, até houve um aumento da despesa com as importações de combustíveis minerais e derivados, que subiram 4,9% para 118,9 milhões de euros (78% do total), mas as compras de cereais passaram de 15,5 milhões em Fevereiro para zero em Março (as estatísticas mostram os valores, não as quantidades).

Em Março do ano passado, as compras de combustíveis minerais e derivados à Rússia tinham custado 39,4 milhões (51% do total), mas desde então o seu valor tem vindo a subir nos mercados internacionais, tendência que se acentuou com a guerra. Comparando Março de 2022 com Março de 2021, as importações até registaram uma subida de 97%, tendência que já se verificara em Fevereiro.

Já as exportações caíram a pique, com a venda de produtos de Portugal a cair dos 13,2 milhões em Fevereiro para 3,3 milhões em Março deste ano, o que representa uma descida de 75%. A principal rubrica, de “reactores nucleares, caldeiras, máquinas, aparelhos e instrumentos mecânicos, e suas partes”, passou de 2,9 milhões para 404 mil euros, perdendo a liderança nas exportações para as “preparações de produtos hortícolas, de frutas ou de outras partes de plantas” que, mesmo assim, não foi além dos 657 mil euros (-19% face a Fevereiro). Em termos homólogos, a descida das exportações para a Rússia foi de 78,6%.

Compra de oleaginosos da Ucrânia em queda

As relações comerciais com a Ucrânia foram naturalmente afectadas pela invasão russa, com as compras a este país a caírem dos 32,8 milhões de euros em Fevereiro para 9,1 milhões em Março, o que representa uma queda de 72%. Grande parte da explicação está também nos cereais, cujas importações passaram de 20,3 milhões para 30 mil euros entre os dois meses em análise.

Em Março, os cereais deixaram de ser a principal categoria, sendo substituídos pela de “sementes e frutos oleaginosos; grãos, sementes e frutos diversos; plantas industriais ou medicinais; palhas e forragens”, no valor de 3,9 milhões. Em Fevereiro, este conjunto de produtos estava na segunda posição, com seis milhões de euros. Em termos homólogos, as importações caíram 72% em Março, depois de uma descida de 41,4% em Fevereiro.

As exportações para a Ucrânia passaram de dois milhões de euros em Fevereiro para 414 mil euros em Março, uma queda de 79%, com as “máquinas, aparelhos e materiais eléctricos e suas partes” a serem substituídas no topo da tabela pelas “preparações à base de cereais, farinhas, amidos, féculas ou leite”. Em termos homólogos, os valores de Março representam uma diferença de -87,4%, depois dos -17,7% de Fevereiro.

Nigéria, EUA e Brasil no topo dos fornecedores de energia

Esta terça-feira, numa análise ao défice externo de Portugal (intitulada “Em Portugal, a guerra na Ucrânia significa - também - regresso a défice externo”) a unidade de estudos económicos e financeiros do BPI destacava que, embora as relações comerciais com a Ucrânia e a Rússia fossem “relativamente reduzidas” (0,4% e 1,3% do total de bens importados por Portugal, respectivamente), a verdade é que estes países “têm um peso importante em alguns fornecimentos: 13% das importações de coque e produtos petrolíferos vêm da Rússia e 35% do milho e 31% do óleo de girassol vêm da Ucrânia”.

“A guerra também afectará os fluxos comerciais com outras economias, através da menor procura por parte de importantes parceiros comerciais”, referia-se na análise do BPI.

Em termos energéticos, Portugal não compra crude à Rússia desde 2019, mas tem feito compras de gás (ainda há poucos dias chegou um navio-tanque a Sines) e constava da lista de clientes de produtos derivados. Consultando os dados da Direcção-Geral de Energia e Geologia (DGEG) relativos ao petróleo e ao gás, verifica-se que os principais fornecedores de Portugal foram a Nigéria (21,8% do petróleo e 49,5% do gás natural, onde detém a primazia), os EUA (10% do petróleo e 33,2% do gás) e o Brasil (principal fornecedor de crude, com 38,5% do total).

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