Crianças das cidades desconhecem ecossistemas aquáticos e a sua biodiversidade

O contacto regular destas crianças à natureza faz com que percam o medo de lidar com animais, a água e a terra. E é importante que este contacto aconteça desde cedo.

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As crianças em contacto com a natureza durante uma das actividades deste projecto DR

As crianças dos meios urbanos têm “um grande desconhecimento” relativamente aos ecossistemas aquáticos e à sua biodiversidade e medo de contactar com a natureza, revelou um estudo liderado por uma investigadora da Universidade de Coimbra.

Divulgado esta quarta-feira, o estudo coordenado por Maria João Feio, do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente da Universidade de Coimbra, centrou-se na avaliação do impacto de um projecto ambiental de continuidade com crianças dos seis aos dez anos e foi realizado no âmbito do projecto CresceRio.

Este projecto, que envolve ecólogos, sociólogos e artistas, “tem como objectivo educar as crianças para a importância dos ribeiros urbanos, da sua biodiversidade e serviços e, simultaneamente, chamar a atenção da sociedade para a necessidade da sua recuperação”, referiu a universidade em comunicado.

No estudo em causa, a equipa avaliou o impacto de cinco actividades realizadas ao longo de dois anos lectivos (1.º e 2.º anos de escolaridade) com uma turma da escola de Solum, durante as quais conheceram ribeiras urbanas de Coimbra e uma da serra da Lousã.

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Outra das actividades feitas pelas crianças DR

Nessas ribeiras, “caracterizaram a vegetação, amostraram invertebrados bentónicos e microalgas e analisaram as perturbações antropogénicas no meio envolvente”. Também realizaram uma aula de laboratório “para identificação da fauna e flora, com microscópios ópticos e lupas binoculares, e calcularam índices de qualidade ecológica dos rios”.

Perder o medo

Segundo o estudo, “os medos revelados pelas crianças foram diminuindo progressivamente ao longo do projecto, à medida que o seu conhecimento sobre os ecossistemas foi aumentando”. “No final, os alunos eram capazes de dizer os nomes de árvores ripárias, plantas aquáticas e invertebrados e identificar os maiores problemas destes sistemas”, acrescentou.

Uma das conclusões retiradas foi que, nestas idades, é necessário tempo “para que os resultados se manifestem e tenham um benefício duradouro, por oposição a acções de sensibilização pontuais”.

“Demonstrámos o efeito do contacto regular das crianças com a natureza. Não só ganham uma importante sensibilidade que lhes permite distinguir o que está bem e mal nos ecossistemas aquáticos, contribuindo assim para a sua preservação, como também perdem o medo do contacto com os animais, a água e a terra, que demonstravam no início, reaproximando-se da natureza”, considerou Maria João Feio.

No entender da investigadora, os resultados mostram que “é essencial promover o contacto das crianças com a natureza e transmitir-lhes conhecimentos sobre os ecossistemas e biodiversidade, de forma a promover comportamentos sustentáveis mais tarde”.

“Este processo deve começar cedo e ser contínuo. Introduzir temas ligados à ecologia com aulas práticas e de campo no currículo no primeiro ciclo é fundamental”, acrescentou.

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