Escola: urge mudar de paradigma

Os processos disciplinares infindáveis desgastam os professores e trazem poucas ou nenhumas recompensas. Devemos questionar se as sanções aos alunos serão o modo mais eficaz de resolver os problemas.

A sociedade mudou muito nos últimos anos e a escola não pode ser indiferente a este facto. Apesar de se conhecer há muito tempo a organização escolar com os seus modos específicos de organização, na escola perpetua-se a indiferenciação e a resistência face à diversidade dos alunos, quanto ao género, raça, cultura e meio socioeconómico, por exemplo.

Sabemos que o conselho de turma é o órgão nuclear de gestão pedagógica quotidiana, constituído por todos os docentes que lecionam um grupo de alunos da turma. Não obstante este facto, não tem sido concedida hegemonia às estruturas de coordenação horizontal, que relevam da turma e do conselho de turma, sobre as estruturas de coordenação vertical, isto é, docentes e seus grupos disciplinares, que têm como objetivo articular as atividades de instrução ao nível de uma disciplina ou de um grupo disciplinar.

Mantém-se assim, em termos organizacionais, o saber no centro da organização pedagógica das escolas públicas, suportadas por um quadro normativo há muito tempo desajustado da realidade atual das escolas e do contexto motivacional e cultural dos nossos alunos. Facilmente poder-se-á depreender que este é um dos fatores que têm como consequência o desinteresse revelado pelos alunos quanto ao processo de ensino-aprendizagem e que está na origem de múltiplos constrangimentos na atividade docente, com efeitos comprometedores no sucesso educativo destes jovens.

Constata-se que a indisciplina dos alunos é um tema que diariamente assola os professores no contexto educativo, pelo que tentamos colmatar este facto com processos disciplinares infindáveis, que se esgotam no tempo, desgastam os professores e trazem poucas ou nenhumas recompensas. Urge inverter esta situação. Devemos pois questionar se as sanções aplicadas aos alunos serão o modo mais eficaz de resolver os problemas emergentes nesta matéria.

É necessário encararmos com seriedade a questão da descaracterização das estruturas de coordenação e orientação educativa, no contexto da organização pedagógica das escolas, com maior responsabilidade, audácia e competência, de modo a podermos idealizar um futuro com maior serenidade nas escolas públicas.

Urge formar cidadãos felizes, responsáveis, aptos para enfrentarem os desafios da vida e com competências reforçadas para intervirem na sociedade. Cabe à Educação proporcionar a cada indivíduo as condições necessárias para cumprir estes objetivos.

A mudança de paradigma na organização pedagógica das escolas, há muito tempo anunciada nos documentos da Comissão de Reforma do Sistema Educativo, desde 1986, é algo que os principais atores da esfera de decisão em Educação têm vindo a adiar, mas revela-se urgente se desejarmos obter o aperfeiçoamento da gestão pedagógica das escolas e da melhoria do sucesso educativo dos alunos.

É necessário que a Educação acompanhe, na linha de uma nova era, todas as mudanças que se têm verificado nos últimos anos na sociedade, com novas forças motivadores e uma assumida alteração de modelos organizacionais.

Importa igualmente referir a necessidade de formação da classe docente, na área da mediação e da relação interpessoal, uma das principais funções assumidas pelos órgãos de gestão pedagógica nas nossas escolas, na qual se insere a imprescindível figura do diretor de turma. A ausência de formação nesta área tem provocado uma angústia crescente no corpo docente que, muitas vezes, se sente impreparado para assumir cargos de gestão intermédia, provocando insegurança pessoal e profissional, comprometedoras da qualidade do clima educativo.

A Educação no nosso país tem de despertar e assumir definitivamente a premissa de que devemos ter um olhar distinto para cada um dos nossos alunos, na tentativa de observar as suas aptidões e suas tendências, medos e desejos, aos quais não podemos ser alheios e indiferentes.

Cabe a todos nós a responsabilidade de uma mudança de paradigma na Educação, que diariamente nos apela, que se adeque aos novos tempos que vivemos e a um universo que se conhece em permanente expansão.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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