Partido de Macron passa a chamar-se Renascimento e apresenta união de direita

Perante a recomposição da esquerda, que dominou as atenções nos últimos dias, a direita aposta numa nova imagem e aparece coligada no Juntos.

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Édouard Philippe, antigo primeiro-ministro de Emmanuel Macron, na apresentação da coligação Juntos EPA/YOAN VALAT

Depois da esquerda é a vez da direita francesa contar espingardas e reunir forças para as legislativas de 12 e 19 de Junho. O partido do Presidente Emmanuel Macron anunciou que deixa de se chamar A República Em Marcha passando a ser Renascimento, e juntou-se ao Horizontes, de Édouard Philippe, e ao Movimento Democrata (MoDem), de François Bayrou, numa confederação que recebeu o nome Juntos (Ensemble).

“Iniciamos hoje um movimento de refundação d’A República Em Marcha para poder continuar a alargar este movimento político, criado há um pouco mais de seis anos pelo Presidente da República Emmanuel Macron, num partido que se chamará Renascimento”, declarou Stanislas Guerini, delegado geral desta força política. Será, acrescentou, “um partido popular com a vocação de ser aberto” para “fazer sempre a escolha das Luzes contra o obscurantismo”.

A pouco mais de um mês das legislativas, os franceses vão ter de se habituar a uma série de nomes novos (mesmo que os rostos não mudem muito) – uma alteração que materializa a recomposição da paisagem política a que o país assiste desde a segunda volta das presidenciais que, a 24 de Abril, garantiu a reeleição de Macron para um segundo mandato. Assim, enquanto a grande coligação à direita se chama Juntos, à esquerda acaba de nascer a Nova União Popular Ecologista e Social (NUPES).

Mas enquanto a esquerda, reunida em torno de Jean-Luc Mélenchon, de A França Insubmissa, se lançou em delicadas negociações para conciliar as posições (em muitos casos claramente divergentes) de “insubmissos”, ecologistas, comunistas e socialistas, a direita diz-se unida no apoio ao programa apresentado por Macron na sua campanha para o Eliseu. “Como poderia ser de outra maneira?”, lançou Édouard Philippe, que foi já primeiro-ministro do actual Presidente, entre 2017 e 2020, num Governo que teve como ministro o outro parceiro desta coligação, François Bayrou.

No entanto, na conferência de imprensa em que foi anunciado o nascimento do Juntos, Édouard Philippe sublinhou: “Estamos juntos porque não somos idênticos”. A diferença é que os debates que possam existir entre as diferentes formações da maioria de direita “ficam numa sala”, uma referência indirecta ao espectáculo público que foram as negociações à esquerda ao longo dos últimos dias. Segundo a France Presse, a maioria presidencial já fez a divisão de candidatos para a corrida aos 577 lugares da Assembleia Nacional: 400 para o Renascimento, 58 para o Horizontes, e perto de 100 para o MoDem.

Enquanto a direita apresentava a sua frente unida (embora, por exemplo, a revista Le Point refira uma “degradação” nas relações entre Édouard Philippe e Emmanuel Macron), à esquerda multiplicavam-se os sinais de uma tensão crescente que ameaça fazer implodir o já moribundo Partido Socialista, cujo conselho nacional preparava a sua reunião destinada a dar (ou não) luz verde ao acordo com Mélenchon. Uma decisão final era esperada ao longo da noite.

Durante todo o dia, várias figuras socialistas manifestavam-se, geralmente através das redes sociais, algumas criticando o acordo (e, em alguns casos, indo ao ponto de anunciar a sua saída do partido) e outras manifestando o seu apoio (é o caso de Martine Aubry, presidente da Câmara de Lille) e defendendo que esta é a única via para um partido que obteve 1,75% de votos nas presidenciais.

Anne Hidalgo, que foi a candidata dos socialistas ao Eliseu, declarou na quinta-feira que não aprecia o acordo com A França Insubmissa, mas “não deseja impedi-lo”. Para a presidente da Câmara de Paris, “o acordo proposto pela França Insubmissa e Jean-Luc Mélenchon não oferece as garantias necessárias em temas tão essenciais como a NATO, a Europa da defesa, a laicidade e os valores universais”.

A recomposição da paisagem política, e o suspense sobre o que poderá acontecer numa França que saiu das presidenciais dividida em três blocos, e que desde então reforçou esse cenário, poderão despertar um renovado interesse pelas legislativas. Habitualmente, este escrutínio, que se segue sempre às presidenciais, com a distância de um mês ou pouco mais, é visto pelos eleitores como uma continuidade destas e, portanto, pouco mobilizador. Nas eleições de 2017, por exemplo, a taxa de abstenção atingiu os 57%, o que constituiu um recorde desde 1958.

Num artigo sobre o que está em causa nestas eleições, o Le Monde explica que “o Presidente eleito não pode executar nada sem ter uma maioria na Assembleia Nacional”. De acordo com a Constituição francesa, apesar de o regime dar grande poder ao chefe de Estado, é o Governo que decide a política e é a Assembleia que vota as leis. Ou seja, o controlo da Assembleia é vital. E é precisamente isso que está em jogo quando os franceses forem às urnas no próximo mês. Não é por acaso que Jean-Luc Mélenchon insiste em chamar-lhes “a terceira volta das presidenciais”.

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