Mulheres ocupam quase 1/3 dos cargos de administração das cotadas mas ganham menos

A Pordata divulgou neste domingo o perfil da mulher trabalhadora em Portugal. Elas ganham, em geral, menos 220 euros por mês do que eles.

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As mulheres estarem hoje “mais presentes nos cargos de decisão das empresas” Paulo Pimenta

As mulheres ocupam quase um terço dos cargos dos Conselhos de Administração das empresas cotadas, mas ganham, em média, menos 220 euros/mês do que os homens em Portugal, sendo mais vulneráveis à pobreza e desemprego.

Segundo o perfil da mulher trabalhadora em Portugal divulgado neste domingo pela Pordata — aproveitando o facto de este ano se celebrar, na mesma data, o Dia do Trabalhador e o Dia da Mãe , “a evolução histórica é notória, mas há ainda caminho a percorrer no que respeita à situação laboral das mulheres e mães portuguesas”.

Como “sinais de mudança”, a base de dados estatísticos da Fundação Francisco Manuel dos Santos aponta o facto de as mulheres estarem hoje “mais presentes nos cargos de decisão das empresas”, com “quase um terço” (31%) dos cargos dos Conselhos de Administração das cotadas em bolsa em 2021 a serem ocupados por profissionais do sexo feminino.

Este valor faz de Portugal o 11.º país da UE27 (27 países da União Europeia) com maior peso das mulheres nos Conselhos de Administração das empresas, sendo “notória” a evolução neste indicador, já que em 2010 o peso das mulheres era de 5,4% e, em 2009, de 3,7%.

A crescer tem estado também o peso das mulheres empregadoras, sendo actualmente do sexo feminino quase um em cada três empregadores em Portugal, seis vezes mais do que em meados dos anos 70. No contexto da UE27, nota a Pordata, “Portugal é o quarto país onde o peso das empregadoras é mais elevado”.

Também na política as mulheres têm vindo a “ganhar terreno”, com o peso das mulheres no parlamento nacional a duplicar entre 2003 e 2021.

Em 2021, Portugal era o sétimo país da UE27 com maior peso das mulheres na assembleia legislativa (40,9%), sendo que “apenas a Suécia e a Finlândia têm mais de 45%, mas em nenhum país elas estão em maioria”.

Os dados disponíveis apontam ainda que a maior escolaridade protege mais as mulheres do que os homens: “Em 2021, a taxa de desemprego das mulheres foi superior à dos homens em todos os níveis de escolaridade, excepto para o ensino superior”, nota a Pordata.

De destacar também a diferença salarial entre homens e mulheres elas ganham, em geral, menos 220 euros por mês do que eles e o facto de esta diferença se acentuar nos níveis mais elevados. Assim, nos quadros superiores as mulheres ganham menos 700 euros do que os homens e, entre os profissionais altamente qualificados, menos 326 euros.

Esta disparidade salarial sente-se particularmente no sector das actividades financeiras e dos seguros, onde as mulheres ganham menos 624 euros, seguindo-se o sector da saúde, com uma diferença de mais de 380 euros, e da educação, com 349 euros de diferença.

A Pordata apurou ainda as diferenças da situação das mulheres em Portugal face aos restantes países da União Europeia, tendo verificado que Portugal é o nono país da UE27 com maior peso de mulheres a trabalhar cerca de sete em cada 10 , tendo a presença de mulheres aumentado 14 pontos percentuais desde 1993.

“E, se se atender às mulheres mais jovens (entre os 30-34 e os 35-39), Portugal ocupa o primeiro e segundo lugar entre a UE27 com maior peso das mulheres a trabalhar nestas faixas etárias”, precisa.

Os dados estatísticos da Fundação Francisco Manuel dos Santos referem ainda que “não só a presença [das mulheres] é maior, como trabalham mais, uma vez que o trabalho a tempo parcial ainda é residual”.

Assim, “Portugal é o oitavo país com menor peso de trabalho a tempo parcial entre as mulheres (9,8%)”, quando “na UE27 quase três em cada 10 mulheres [29,4%] trabalham a “part-time"”.

No contexto europeu, Portugal destaca-se também como o quinto país com maior proporção de mulheres com contratos temporários.

“São mais de uma em cada seis”, acentua a Pordata, acrescentando que os “Países Baixos, Espanha e Finlândia lideram este “ranking"”.

Da análise estatística resulta ainda a constatação da “maior vulnerabilidade” das mulheres face à pobreza e ao desemprego.

Assim, em Portugal, uma em cada cinco mulheres é considerada pobre ou em exclusão social, sendo Portugal “o 11.º país onde este valor é mais alto no “ranking” de 23 países da União Europeia com dados disponíveis.

Verifica-se que “a pobreza também afecta mais as famílias monoparentais um quarto destas famílias são pobres e, em quase nove em cada 10 famílias monoparentais, o adulto é uma mulher”.

As mulheres estão também em maioria enquanto beneficiárias do rendimento social de inserção (52%) e são mais vulneráveis à situação de desemprego: mais de metade dos desempregados inscritos no Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) são mulheres (57%)”, estando elas também em maioria enquanto beneficiárias do subsídio de desemprego (56%) e do subsídio social de desemprego (61%).

A análise da Pordata traça ainda um perfil das mães e da mulher trabalhadora em Portugal, concluindo que “há mais bebés de mães que trabalham e que têm o ensino superior” (quatro em cada 10 bebés são de mães com este nível de escolaridade) e que os 2,4 milhões de mulheres trabalhadoras em Portugal representam metade da população empregada.

Das mulheres trabalhadoras, 88% são por conta de outrem, 3% são empregadoras, 8% são trabalhadoras por conta própria isoladas, 10% trabalham a tempo parcial, 82,6% trabalham nos serviços, 15,8% na indústria e 1,6% na agricultura e pescas.

Entre as trabalhadoras por conta de outrem, 83% está efectiva e 14% tem contrato a prazo.

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