Há golfinhos no Tejo e em breve vamos ficar a saber mais sobre eles

Observatório vai realizar um trabalho pioneiro para encontrar respostas para a situação dos cetáceos no Estuário do Tejo.

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Ponto de observação na Torre de Controlo do Trafego Marítimo da Administração do Porto de Lisboa LUSA/ANTÓNIO COTRIM

golfinhos no Tejo. Disso já ninguém tem dúvidas e há até a percepção de que o número de cetáceos no estuário está a aumentar nos últimos tempos, mas na verdade não se sabe. Aliás, não se sabe quase nada sobre a presença destes mamíferos no maior rio português. É para encontrar respostas para esta realidade que nasceu o Observatório Golfinhos no Tejo (OGT). No início de Julho deste ano já se vai saber mais um pouco sobre esta comunidade.

O oitavo andar da Torre de Controlo do Trafego Marítimo da Administração do Porto de Lisboa (APL) oferece uma privilegiada vista para o estuário do Tejo. É lá que é realizado parte do trabalho do novo observatório, apresentado nesta quinta-feira em Lisboa mas que já está a trabalhar desde o início de Março. E em 19 dias e 140 horas de observação já foram avistadas duas espécies de golfinhos: comuns e roazes.

O Observatório Golfinhos no Tejo é uma parceria entre a APL, Associação Natureza de Portugal/WWF e o MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente com o ISPA – Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida. O objectivo é perceber padrões espaciais e sazonais de utilização do estuário por parte de cetáceos, como o golfinho comum. “Tivemos avistamentos em 40% dos dias, o que foi muito superior às nossas expectativas”, revelou a bióloga do ISPA, Ana Rita Luís.

Há quantos anos há golfinhos no Tejo? Quais são as espécies avistadas? Qual a composição dos grupos? São sempre os mesmos indivíduos? Como utilizam o estuário e o que vêm cá fazer? Que factores podem justificar estas visitas? Responder a estas perguntas é a tarefa do OGT, que tem planeado um primeiro relatório a 4 de Julho. “Uma primeira fotografia” que poderá ainda não responder a todas estas perguntas, mas que dará já algumas pistas sobre os cetáceos no Tejo, explicou Ana Rita Luís.

Os investigadores e voluntários do observatório “vigiam” continuamente a zona do baixo Estuário do Tejo à procura de cetáceos, registando também as actividades humanas, as condições atmosféricas, entre outros factores. A informação recolhida servirá para o desenvolvimento de teses académicas, artigos científicos e outros trabalhos de divulgação científica, bem como para servir de base para uma divulgação mais alargada ao público em geral, em especial junto de quem vive na Área Metropolitana de Lisboa.

O seu trabalho, que se deverá prolongar até final do ano, tem por base observações no período diurno, com telescópio e binóculos, registo das observações e das condições ambientais e integração com dados de acústica passiva e censos visuais.

A iniciativa pretende ainda “contribuir para aproximar os cidadãos, entidades e utilizadores do estuário do Tejo à conservação marinha”, salientou Ana Henriques, da ANP. “Assume-se como um exemplo de boas práticas de governança, com as suas parcerias estratégicas entre ONG, comunidade científica, administração, autoridades, empresas e entidades financiadoras, para ajudar a compreender, de forma científica, quais os motivos das visitas dos golfinhos ao estuário do Tejo e para evidenciar o rico património natural que é o rio Tejo”, acrescentou.

Em Julho vamos começar a conhecer a realidade sobre os cetáceos no Tejo até agora desconhecida. E é com orgulho que as responsáveis pelo projecto citam uma notícia recente do jornal inglês Guardian, que dizia que Lisboa é a única capital europeia “com golfinhos à sua porta”.

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