Livre propõe criar uma “Escola no Exílio” para acolher académicos, intelectuais e artistas que se refugiam em Lisboa

Moção apresentada pelo Livre na Câmara de Lisboa foi aprovada. A ideia é criar um espaço para acolher e integrar académicos e artistas que procuram refúgio na cidade, pensando neste momento nos milhares de ucranianos que estão a fugir do seu país.

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Fachada da casa onde Hannah Arendt viveu em Lisboa exilada, na Rua da Sociedade Farmacêutica Ricardo Lopes/Arquivo

Em 1933 começavam a chegar à cidade de Nova Iorque académicos perseguidos pelos regimes fascistas de Itália e da Alemanha Nazi. Refugiavam-se na "Universidade no Exílio”, associada à The New School, que acabou por receber pensadores como Max Wertheimer, Erich Fromm e Aron Gurwitsch na área da psicologia, o filósofo Hans Jonas e os politólogos Leo Strauss e Hannah Arendt.

Quase 90 anos depois, em Lisboa, quer-se repetir essa experiência. Numa altura em que a guerra voltou à Europa e milhares de ucranianos abandonam o seu país, o Livre quer que tenham na capital portuguesa um refúgio para continuar os seus estudos ou a sua arte — ucranianos e não só. Esta quarta-feira, o vereador Rui Tavares viu esta moção aprovada pela Câmara de Lisboa, com a abstenção do PCP.

Apesar de não ter valor vinculativo, assumindo a forma de uma recomendação, o texto aprovado pelo executivo, que foi também subscrito pelo PS, sugere que a câmara avance com a criação desta “Escola no Exílio” para “integrar académicos, intelectuais e artistas que procuram refúgio na cidade”. Esse processo, sugere ainda, deve ser feito em parceria com as universidades e instituições de ensino da cidade, promovendo a partilha de espaços ou em local próprio para o efeito.

A ideia é que seja “um lugar de partilha cultural e linguística” com comunidade de acolhimento, e que promova a organização de cursos livres, conferências e palestras e a integração destas pessoas no nosso tecido académico, intelectual e social. E que estes académicos, escritores ou artistas possam continuar as suas actividades, “intensificando a troca intelectual, académica e cultural” na capital, permitindo-lhes também manterem-se a produzir arte e conhecimento para que um eventual regresso aos países de origem possa ser mais fácil.

Se a situação actual entre Ucrânia e Rússia obriga à criação de uma resposta de acolhimento a quem foge da guerra, o Livre lembra também que Lisboa tem sido nas últimas décadas uma “cidade de passagem segura, de acolhimento e refúgio” para refugiados provenientes da Síria e do Afeganistão.

“Lisboa deve, neste momento, mover esforços não apenas no âmbito do acolhimento de emergência, mas também na integração e no acompanhamento dos refugiados que procuram a nossa cidade e que aqui desejem ficar”, refere o texto aprovado.

Em resposta à agência Lusa, o PCP justificou o voto de abstenção por considerar que “a iniciativa do Livre está mal construída”, uma vez que o instrumento adequado para deliberações da câmara municipal relativamente ao desenvolvimento de acções que dependem de si “é a proposta e não a moção, que se dirige a entidades externas”.

Independentemente dessa questão, os vereadores comunistas consideraram que o projecto proposto “não cabe na esfera de acção exclusiva da câmara municipal, devendo pressupor uma interacção com outras entidades, nomeadamente com o Governo, que deve ter o papel central neste domínio, que pode e deve ser complementado pela acção e contributos da câmara”, referindo que não era esse o espírito da moção do Livre, que pressupunha que fosse o executivo camarário a dinamizar a iniciativa.

Relativamente à situação da Ucrânia, a câmara aprovou também uma moção apresentada pela vereadora do BE, Beatriz Gomes Dias, para que o Governo seja instado a manter a disponibilidade para receber pessoas refugiadas da guerra na Ucrânia, inclusive menores não acompanhados, assegurando todas as condições de segurança para a viagem e a instalação condigna destas pessoas, assim como “a aplicar sanções efectivas à oligarquia russa, revogando e suspendendo a atribuição de vistos gold e congelando e expropriando os bens que detêm em território nacional”.

Esta moção foi aprovada com a abstenção do PCP e os votos a favor dos restantes vereadores.

O BE apresentou ainda uma proposta para criação de uma comissão de acompanhamento permanente da resposta da Câmara de Lisboa às pessoas em situação de refúgio provocada pela guerra na Ucrânia constituída por todos os vereadores do município que desejem participar, mas que será votada numa próxima reunião. com Lusa

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