Na ModaLisboa, a Ego Selfie Hotel explora as profundezas do ego e do narcisismo digital

Exposição temporária resulta de uma parceria entre a ModaLisboa e a galeria CABANAmad e conta com artistas como Marta Pombo, Daniele Giannetti, Anna Grenma e Joana Duarte (Béhen).

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Exposição temporária pode ser vista na cave do espaço do Beato onde decorre a 58.ª edição da ModaLisboa Adriana Ming/ModaLisboa

É na cave do Hub Criativo do Beato, em Lisboa, longe da confusão do sobe e desce de escadas e de conversas paralelas, animadas pelas luzes e música, características típicas de um evento de moda, que está instalada a Ego Selfie Hotel with Sound Bath, uma exposição que resulta da parceria entre a ModaLisboa e a galeria CABANAmad.

A exposição pretende explorar a necessidade, cada vez mais gritante, que as pessoas têm de viver os seus “15 minutos de fama” – expressão do artista norte-americano Andy Warhol (1928-1987) que, de resto, serve também de inspiração para o conceito do evento – causada pela “era dos smartphones” e da Internet.

Para Antonio Lettieri, curador da exposição, “o que mais mudou a nossa vida foi [com a invenção do] iPhone”, acrescentando que a selfie (a capacidade de fazer auto-retratos com os smartphones) está a tornar-se, pouco a pouco, uma “obra de arte”. Assim sendo, neste espaço só há uma regra: é preciso tirar uma selfie, convida.

Adriana Ming
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Adriana Ming

Para o efeito, a Ego Selfie Hotel tem exposto um cenário da autoria de Joana Duarte, designer da Béhen. A peça foi produzida com a colaboração de artesãos da ilha de São Jorge, Açores, com o objectivo de recriar, da forma mais fidedigna possível, o bordado tradicional da região. “Acho que é uma obra fantástica porque revaloriza o artesanato e a cultura portuguesa”, elogia Antonio Lettiere.

A exposição conta ainda com um espelho em aço inoxidável no feitio de um donut, obra idealizada pelo artista polaco Oskar Zieta, e que reflecte uma imagem distorcida de quem o utiliza. Numa exposição sobre o ego, um espelho não podia faltar, contextualiza o curador, sublinhando a importância do objecto que, ainda que seja “muito simples”, é o que nos permite olhar para nós mesmos.

E falar de ego é também falar de Narciso que, por castigo, se apaixonou pelo seu próprio reflexo, não mais abandonando a beira da água, onde se via reflectido. Também a personagem da mitologia grega marca presença neste espaço através de um néon da flor com a qual partilha o seu nome, o narciso. A obra foi feita por um grupo de quatro artistas portuguesas, o Atelier Contencioso.

A exposição conta também com instalações imersivas, que pretendem levar à reflexão e à circunspecção. O artista italiano Alessandro Di Giampietro traz um vídeo sobre a verdadeira identidade por trás da máscara. A ideia parte da famosa frase de Andy Warhol. Também Daniele Giannetti, com a colaboração de Anna Grenman, desenvolveu o “Sound Bath”, um trabalho que tem como base as vibrações causadas pela comunicação entre baleias jubarte.

Esta instalação explora a relação entre Lisboa e o mar, na perspectiva daqueles cetáceos, cuja passagem tem vindo a ser registada na costa da região durante as suas viagens migratórias. No seu conjunto, a instalação inclui vasos em terracota, pinturas e trabalhos de som. De forma a recriar o seu canto, além de usar gravações dos sons emitidos pelas também conhecidas como baleias cantoras, Daniele Giannetti usou quatro sinos tibetanos e dois gongos planetários.

Para a artista, esta colaboração com Anna Grenman foi muito importante, diz ao PÚBLICO. O resultado é um espectáculo enriquecedor para todos os sentidos. A contribuição da finlandesa Anna Grenman para a Ego Selfie Hotel vai mais além, com um trabalho próprio, um vídeo de pessoas a comer uma pêra que, assume, é o verdadeiro fruto proibido. “Há uma teoria que diz que, em vez da maçã, era a pêra o fruto proibido quando as histórias bíblicas foram escritas e isso interessou-me”, explica.

Passando do pecado para os vícios, Marta Pombo criou um parque de brincar que não é aconselhável para crianças, uma vez que as almofadas têm o formato de cigarros. “O título da obra é ‘Parque’ e a ideia é que se pareça com um espaço de brincar. É uma instalação que convida a deitar-nos, mas funciona como um isco, porque quando nos aproximamos vemos que não é um brinquedo. O cigarro aqui simboliza aquilo que nos atrai, mas que no fundo não é bom para nós. A obra convida-nos a ficar confortáveis com os nossos vícios”, esclarece a artista.

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Ego Selfie Hotel pretende expor aos visitantes o ego e o narcisismo de que todos somos vítimas no contexto digital da actualidade. A exposição vai estar aberta ao público até domingo, dia em que termina a ModaLisboa.


Editado por Bárbara Wong

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