Sic semper Tyrannis

A história da humanidade está repleta de capítulos sangrentos e desprezíveis. Não podemos mudar o passado, mas podemos e devemos apreender com ele para fazer melhor no futuro.

Não tenham dúvidas, não fiquem indiferentes! Isto diz respeito a todos! Isto afeta todos! Muitas vidas vão ser aniquiladas com recurso a balas e bombas, muitas outras vão ser atormentados com a inflação, com a desvalorização da moeda, com desemprego... ninguém sai ileso!

A civilização evoluiu muito nas últimas décadas, nos últimos séculos, mas nada avançou mais do que a nossa capacidade para nos autodestruirmos. A ameaça de recurso a armas nucleares foi feita, é real. Se chegar a isso, então que Deus nos ajude a todos.

No entanto, esse argumento serve não apenas para esta invasão, como para todas as outras que lhe venham a suceder. A história condenou Chamberlain pela sua inação ao deixar que Hitler invadisse meia Europa antes de agir, mas na verdade não foi somente Chamberlain quem hesitou, foram todos!

Não podemos voltar a errar, não podemos ficar indiferentes, não nos podemos conformar, não podemos paralisar, não podemos deixar que o medo vença. Temos de agir! “Quando os homens maus se juntam, os bons devem-se associar; caso contrário, cairão, um a um, num sacrifício impiedoso numa luta desprezível.” (Burke, 1770)

Senão aprendermos com a história, ela irá certamente se repetir. A expressão Lebensraum (espaço vital), traz à memória eventos do passado, que a nossa sociedade jurou jamais voltar a permitir. É infeliz, representantes eleitos do povo, utilizarem este argumento como um justificativo para esta invasão.

A chave para a resolução do conflito está nas mãos dos cidadãos, é certo, especialmente dos cidadãos russos. Que, juntamente com os ucranianos, são as principais vitimas deste conflito. Só eles, os russos, embora que com o apoio da comunidade internacional, podem evitar o agravamento da situação. Foram eles que colocaram Putin e restantes membros do governo no poder e são eles quem tem o poder e o dever de os derrubar.

A nós, cidadãos europeus é-nos dito que Putin e os russos são saudosistas da URSS e que querem voltar a absorver os antigos territórios. Enquanto que aos cidadãos russos é-lhes dito que os EUA, a UE, enfim a NATO, querem destruir a Rússia e absorver todos os países que faziam parte da URSS. A cultura do medo não é recente. Tem sido usada ao longo de séculos para manipular as massas. É a principal arma de tiranos e opressores.

Novamente a história se repete. Um punhado de poderosos jogam com a vida de milhões de pessoas, põem e dispõem como se de um qualquer objecto se tratasse.

A democracia não é recente. Inventada há milénios na Grécia antiga, evoluiu e foi-se aprimorando até ao que temos hoje. Dá responsabilidades a cada um de nós. Responsabilidade de eleger cuidadosamente os nossos representantes. Para isso é nossa obrigação perceber de onde vêm, quais as suas motivações e competências e para onde querem conduzir a sociedade. São nossos representantes, não são nossos líderes. Estão lá para servir os cidadãos, não para se servirem a si mesmos.

Embora se possa questionar a fiabilidade dessas eleições, no fundo, Hitler foi eleito democraticamente, Putin foi eleito democraticamente, Bush foi eleito democraticamente. Nenhum deixa boas recordações.

Sim, o que aconteceu no Iraque, no Afeganistão e em outras longitudes, foram crimes contra a humanidade, que infelizmente só a história julgará. Mesmo assim, isso não pode ser usado como justificativo para branquear a invasão da Ucrânia.

Já diz o ditado: two wrongs don't make a right — isto é, duas atitudes erradas não fazem uma certa.

Mais do que um direito, a democracia é hoje um dever. É nosso dever escolher os nossos representantes com consciência, com responsabilidade. É nosso dever impedir pequenos tiranos, do acesso ao poder, e quando tudo falha é nosso dever retrai-los desse mesmo poder e entregá-los à justiça.

A história da humanidade está repleta de capítulos sangrentos e desprezíveis. Não podemos mudar o passado, mas podemos e devemos apreender com ele para fazer melhor no futuro.

Não basta ser a geração mais bem preparada de sempre. Faz falta compaixão, faz falta empatia, faz falta altruísmo, faz falta humanismo. Um mundo melhor, em paz, está verdadeiramente ao nosso alcance, está nas mãos de cada um de nós. “We can’t help everyone, but everyone can help someone”, disse Ronald Reagan.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

Sugerir correcção
Comentar