Pais não compreendem manutenção de máscara na sala de aula, directores falam de limitação na aprendizagem

Pais dizem que “manter esta medida não é muito compreensível face à situação” actual. Dirigentes escolares esperam que levantamento da restrição esteja para breve, uma vez que é um factor “limitador” no processo de aprendizagem.

Foto
“A máscara é uma espécie de mordaça que colocamos na face dos professores que têm de dar aulas” Adriano Miranda

O Governo decidiu esta quinta-feira aliviar as restrições em vigor para controlar a pandemia de covid-19. Entre outras medidas, mantém-se a obrigatoriedade da utilização de máscara nos espaços interiores de acesso ao público, nos quais se incluem as salas de aula. Alguns especialistas tinham pedido o levantamento dessa medida, mas a decisão do Governo não foi nesse sentido. Ao PÚBLICO, dirigentes escolares e de associações de pais recordam a barreira à comunicação que a utilização de máscara provoca entre professores e alunos.

“Reconheço que a máscara é uma espécie de mordaça que colocamos na face dos professores que têm de dar aulas”, começa por explicar o presidente da Associação Nacional de Directores de Escolas Públicas (ANDAEP), Filinto Lima. Apesar disso, ressalva que acredita “na ciência e nos especialistas”. Filinto Lima diz que “tinha a esperança” de que esta medida fosse levantada já e não apenas quando os indicadores pandémicos melhorarem. “Estamos já um pouco diferentes daquilo que estávamos há uns tempos. Lembro-me que foi na semana de 24 a 28 de Janeiro que atingimos o pico de contágios nas escolas e a partir daí as coisas melhoraram”, justifica.

Já Manuel Pereira, presidente da direcção da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE) refere que a obrigatoriedade do uso de máscaras de protecção individual nas salas de aula é, de facto, uma “limitação forte à comunicação”. “Mas não sou um técnico de saúde, sou da área da educação e, por isso, encaro isto como uma medida cautelar para proteger todos”, desenvolve. O dirigente escolar diz que as máscaras “continuam a ser um forte limitador no processo de aprendizagem das crianças, nomeadamente nos alunos mais novos”. “Espero que brevemente até as máscaras deixem de ser necessárias, mas a situação de pandemia não está ainda resolvida.”

Já do lado da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap)​, Jorge Ascenção é mais severo nas críticas e fala mesmo em “contradições” e “incongruências” por parte do Governo na tomada de decisões quanto às escolas. “Manter esta medida não é muito compreensível face à situação em que estamos”, defende e pede à tutela que seja “clara e coerente” na comunicação.

“É preciso explicar porque é que existe este cuidado, tem havido, de facto, muitas contradições entre aquilo que são as medidas para as escolas e as medidas para outros espaços.” Entre esses espaços estão os bares e discotecas, que com o alívio de restrições dispensam a obrigatoriedade de máscara. Para Manuel Pereira, a decisão do Governo para esse alívio parece ser clara: “Aos bares e discotecas vai quem quer. É também uma forma de proteger as famílias dos alunos porque as escolas são espaços obrigatórios de frequência dos menores de 18 anos e os bares e discotecas não.”

A obrigatoriedade de máscara nos espaços públicos interiores é uma das medidas que vigorarão até se verificar uma “queda significativa” dos óbitos por covid-19, cujo número permanece ainda “muito elevado”, disse esta quinta-feira a ministra de Estado e da Presidência, Mariana Vieira da Silva, em conferência de imprensa. Embora não haja ainda calendário previsto para a passagem de Portugal para o nível seguinte do alívio das medidas, na reunião no Infarmed de quarta-feira peritos em saúde pública disseram acreditar que em cinco semanas Portugal atingirá as 20 mortes por milhão de habitantes a 14 dias.

Contactado pelo PÚBLICO, o presidente do colégio de pediatria da Ordem dos Médicos, Jorge Amil, ressalva que os membros não foram contactados pela Direcção-Geral da Saúde para a tomada de decisão e, por isso, não tem “recomendações específicas” sobre o assunto. “Recordo que, há uns meses, quando resolveram vacinar as crianças, prometeram algumas coisas entre elas a normalização, acabar com as máscaras, evitar novas vagas. Se calhar é oportuno reverem os objectivos propostos e ver se cumpriram aquilo a que se propuseram”, remata.

Em Espanha, a Associação Espanhola de Pediatria pediu, na segunda-feira, a retirada gradual das máscaras nas salas de aula, a partir do final deste mês e dos alunos mais novos para os mais velhos.

Sugerir correcção
Ler 26 comentários