Tenho epilepsia. Posso ter uma vida normal?

O Dia Mundial da Epilepsia chama a atenção para esta doença e, sobretudo, para as pessoas que a têm. É uma oportunidade para a desmistificar e perceber que não impede, habitualmente, uma vida “normal”.

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"O diagnóstico e tratamento implicam avaliação médica" DANIEL ROCHA/arquivo

A epilepsia é uma doença cerebral que, devido a actividade neuronal anormal, se manifesta por alterações transitórias de comportamento crises epilépticas existindo um risco mantido de as sofrer. As crises epilépticas manifestam-se de diferentes formas: movimentos involuntários, por vezes exuberantes (convulsões), perturbação da consciência, alterações psíquicas como o medo, por exemplo, ou de sensibilidade, entre outros.

A epilepsia tem outras dimensões como as alterações psicológicas como a ansiedade ou queixas depressivas —, e sociais, como por exemplo, a perda de emprego, por vezes por aspectos clínicos mas, frequentemente, por mitos e preconceitos, que importa eliminar.

O número de novos casos em países desenvolvidos ronda os 26 a 79 casos por 100 mil pessoas por ano, podendo surgir em todas as idades, mas sobretudo nos primeiros anos de vida e depois dos 65 anos.

Sofrer uma crise epiléptica não implica sempre ter epilepsia. Falamos em epilepsia quando existe um risco permanente de ter crises epilépticas. Existem crises associadas a situações pontuais, como a fase aguda do AVC ou do trauma encefálico, em que são apenas sintomas da doença aguda, podendo não ocorrer de novo.

O diagnóstico e tratamento implicam avaliação médica. Existem outras formas de perturbação de consciência a excluir, como é o caso da síncope, por exemplo. Se for, de facto, uma crise epiléptica, é necessário determinar se existe risco de recorrência, o que permitirá o diagnóstico. Além da avaliação clínica, habitualmente implica a realização de exames, como por exemplo o Electroencefalograma e a Ressonância Magnética Encefálica.

Após o diagnóstico de epilepsia, habitualmente é proposto tratamento com fármacos antiepilépticos para diminuir o risco de crises. O fármaco depende do tipo de epilepsia e das características da pessoa, havendo grupos com particularidades, como os idosos e as mulheres em idade fértil.

Cerca de dois terços a três quartos das pessoas ficam livres de crises com a medicação. Para os restantes, há ainda alternativas como a cirurgia e outras terapias, que devem ser ponderadas. Deve ser sempre um tema abordado em caso de crises por controlar. As epilepsias condicionam manifestações e evolução diferentes e têm múltiplas causas (genéticas, estruturais, infecciosas), não sendo desejável comparar o que se passa com outra pessoa.

O que fazer se vir alguém a ter uma crise? Não entrar em pânico e pedir ajuda, se possível. Numa convulsão, colocar a pessoa de lado, afastando objectos que a possam magoar. Não se deve colocar nada nem mexer na boca. Deve-se chamar o 112 sempre que não se conhece a pessoa, se for a primeira crise, se a crise durar mais de 5 minutos, se a pessoa não voltar ao normal, ou se existir uma complicação, como o trauma.

Na maioria dos casos, a epilepsia não é uma doença incapacitante, que impeça de frequentar o ensino, ter um emprego ou ter momentos de lazer. Em suma, não impede uma vida normal. Isso não significa que não existam cuidados, opções e compromissos: a adesão à medicação, evitar desportos potencialmente perigosos em caso de perda de consciência (por exemplo, o pára-quedismo), nadar em piscinas sendo vigiado por alguém que saiba que “tenho epilepsia” e compreendendo que os casos de inibição de condução (transitórios se ficar controlado) servem para evitar acidentes sérios para o próprio e para terceiros.

É, sim, uma doença que exige cuidados, opções e compromissos. É uma doença que deve ser vista com esta simplicidade por quem está à frente de uma pessoa com epilepsia seja na família, na escola ou no emprego.

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