Corsino Tolentino: quando os dedos falharam, resistiu até ao fim com o pensamento

O antigo ministro da Educação de Cabo Verde, um diplomata de carreira que foi embaixador em Portugal, morreu na terça-feira vítima de uma doença rara que o foi deixando paralisado.

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Corsino Tolentino foi embaixador em Portugal e membro da direcção da Fundação Calouste Gulbenkian Nuno Ferreira Santos

O antigo ministro da Educação e diplomata cabo-verdiano Corsino Tolentino morreu na terça-feira na Cidade da Praia, vítima de paralisia supranuclear progressiva, uma doença neurodegenerativa rara que provoca instabilidade postural, rigidez progressiva, paralisia supranuclear do olhar e demência ligeira.

“Hoje, 21 de Dezembro, às 7h, André Corsino Tolentino fez a sua última viagem. No dia do solstício quando, desde tempos imemoriais as culturas de todo o mundo celebram o Sol e o ciclo da vida, também nós hoje honramos esta alma magnífica cuja luz fomos privilegiados em receber”, escreveu no Facebook, a filha Leida Curado Tolentino.

Corsino Tolentino, veterano da luta de libertação na Guiné-Bissau, lutou até ao fim com uma doença que o foi condicionando aos poucos, tendo mesmo inspirado a sua última obra, publicada na capital cabo-verdiana a 26 de Novembro: A vitória é hoje. A minha relação com a Paralisia Supranuclear Progressiva.

Nesse seu livro, aquele que foi ministro da Educação de Cabo Verde entre 1984 a 1991 deixou estas palavras: “Sinto que tenho mais coisas a dizer e já usei toda a capacidade dos meus dedos para escrever. Porém, ainda não usei todo o meu pensamento!”.

“Enquanto governante, na área da Educação, deu um contributo muito forte para o reforço do sistema educativo cabo-verdiano e para a reforma da Educação em Cabo Verde. Com ele foi aprovada a primeira lei de bases do sistema educativo cabo-verdiano, que lançou os alicerces para o desenvolvimento do sistema educativo cabo-verdiano”, disse o Presidente de Cabo Verde.

José Maria Neves classificou a morte de Tolentino como “uma enorme perda” para o país, que viu desaparecer “um combatente destemido pela liberdade” que defendeu a “dignidade” do povo cabo-verdiano.

Natural da ilha de Santo Antão, onde nasceu a 30 de Maio de 1946, André Corsino Tolentino foi, além de ministro da Educação e de secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros, um diplomata de carreira que serviu como embaixador de Cabo Verde em vários países, incluindo Portugal.

Doutor pela Universidade de Lisboa, mestre pela Universidade de Minnesota, nos EUA, foi também escritor, consultor do Banco Mundial, dirigente da Fundação Calouste Gulbenkian e promotor da Associação das Universidades de Língua Portuguesa (AULP) e do Instituto da África Ocidental (IAO).

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