População residente em Portugal com imunidade de 86,4% contra o SARS-CoV-2

A região do Algarve é a que apresenta uma menor prevalência de anticorpos específicos contra o SARS-CoV-2 e a região Norte tem o valor mais elevado, de acordo com a 3.ª fase do Inquérito Serológico Nacional sobre Covid-19.

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Participaram nesta terceira fase do inquérito serológico 4545 indivíduos com mais de um ano Nelson Garrido

Através dos dados da 3.ª fase do Inquérito Serológico Nacional sobre Covid-19 estima-se que 86,4% da população residente em Portugal, com idade superior a um ano, tem anticorpos específicos contra o SARS-CoV-2. Coordenado pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (Insa), o trabalho divulgado esta quarta-feira envolveu mais de 4500 pessoas recrutadas até meados de Novembro de 2021.

Nesta terceira fase do Inquérito Serológico Nacional sobre Covid-19 participaram exactamente 4545 indivíduos com mais de um ano e que foram recrutados entre 28 de Setembro e 19 de Novembro de 2021. As colheitas foram feitas em 305 postos distribuídos por todo o país. Além do preenchimento de um questionário com informações clínicas e epidemiológicas, os participantes tiveram de dar uma amostra de sangue para determinação de anticorpos específicos para o SARS-CoV-2. Em todos eles se determinou a presença de IgG (uma das classes de anticorpos produzidos pelo nosso sistema imunitário contra o SARS-CoV-2) ​específicos contra a proteína da nucleocápside do coronavírus e quantificaram-se esses anticorpos contra a proteína da espícula do SARS-CoV-2. Numa amostra aleatória de 884 participantes com IgG também se quantificaram os anticorpos neutralizantes.

“A seroprevalência de anticorpos específicos contra SARS-CoV-2 na população residente em Portugal com idade superior a um ano foi de 86,4%, valores consistentes com a cobertura vacinal e com a situação epidemiológica nacional”, refere-se nos pontos em destaque do relatório com os resultados do inquérito.

Essa seroprevalência foi mais alta nas pessoas entre os 50 e os 59 anos (96,5%), logo seguida dos indivíduos com ensino superior (96%) e na população com duas ou mais doenças crónicas (90,8%). Os valores foram mais baixos nos grupos etários abaixo dos 20 anos: 17,9 % entre um e nove anos e 76,8 % entre os dez e os 19 anos. Contudo, ressalva-se no documento, estes grupos não foram total ou parcialmente abrangidos Programa Nacional de Vacinação contra a Covid-19.

O Algarve e os Açores são as regiões com uma seroprevalência mais baixa – 80,2% e 84%, respectivamente. A região Norte tem o valor mais elevado – 88,4 %.

Os valores da seroprevalência relativos a infecções anteriores foram mais baixos agora do que na 2.ª fase deste inquérito – em que, no final de Março, 15,5% da população residente em Portugal tinha anticorpos específicos para o coronavírus tanto conferidos pela infecção natural como pela vacinação.

Se nesta última fase a seroprevalência pós-infecção foi de 7,5%, na fase anterior tinha sido de 13,5%. No inquérito, justifica-se que isso “provavelmente se encontra relacionado com o decaimento de anticorpos específicos para o SARS-CoV-2 ao longo do tempo pós-infecção”. “Este padrão foi observado na maioria dos grupos etários e regiões de saúde, à excepção do grupo etário entre um e nove anos e nas regiões do Algarve e Açores”, refere-se ainda no comunicado do Insa que anunciou os dados do inquérito.

Quem tem mais anticorpos?

Concretamente sobre os níveis (ou títulos) de anticorpos, verificou-se que os níveis de IgG contra a proteína da espícula (responsável pela entrada do vírus nas células) foram mais altos nas pessoas com três doses da vacina. Logo depois, ficaram as pessoas que foram vacinadas e tiveram uma infecção anterior. “Os títulos de IgG foram mais baixos nas pessoas com uma dose única de vacina e sem infecção prévia”, refere-se no documento. Realça-se ainda que os níveis desses IgG diminuíram com o tempo desde a administração da segunda dose e com a idade dos vacinados.

No comunicado, nota-se que os níveis de IgG e de anticorpos neutralizantes foram mais altos no grupo de pessoas que referiram ter sido vacinadas com as vacinas de ARN-mensageiro, assim como que há uma correlação “fortemente positiva” entre os níveis de IgG e os de anticorpos neutralizantes.

No resumo do inquérito, assinala-se que deve haver precaução na análise dos resultados pela ausência de indicador serológico correlacionado com a protecção individual ou pelas possíveis diferenças entre subgrupos do estudo. Contudo, conclui-se que “os resultados obtidos são consistentes com a actual situação epidemiológica, cobertura vacinal e com os dados obtidos nos estudos de efectividade vacina”.

O trabalho foi coordenado pelos departamentos de Epidemiologia e de Doenças Infecciosas do Insa, que tiveram como parceiros a Associação Nacional de Laboratórios Clínicos, Associação Portuguesa de Analistas Clínicos e com 36 Unidades do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

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