Porto

Três anos de Pérola Negra com muitas sopas de letras

São "totalmente pensados para o online", mas os letreiros do Pérola Negra já fazem parte do ADN da cidade. Clube portuense comemora por estes dias o 3.º aniversário com John Talabot, Joe Goddard, Superpitcher, entre outros.

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“Temos cabidela”, anunciou o clube, em Dezembro de 2019, como quem manda uma piada. Porquê? “Não tínhamos mais nada para fazer”, graceja Nuno Vieira, uma das mentes (brilhantes) responsáveis pelos letreiros do Pérola Negra, que chega ao terceiro aniversário como um destino incontornável na noite do Porto. Resultado: “Entram lá três homens a perguntar se ainda servíamos.”

É apenas uma das muitas histórias provocadas pelas mensagens que Nuno e Raquel Nunes se entretêm a compor, agora praticamente todas as semanas, no topo da entrada da discoteca, um antigo cabaret e bar de striptease na Rua Gonçalo Cristóvão. Missivas que são “totalmente pensadas para o online”, mas que já fazem parte do ADN da cidade. “As pessoas dos cafés aqui ao lado ou do tribunal da comarca vêm perguntar-nos o que vamos pôr”, conta Nuno. “Nunca pensámos que se tornasse numa marca tão importante.”

Aquele espaço até começou por ser apenas ocupado com anúncios da programação. Mas… “Se tens uma montra gratuita cá fora, usa-a.” Foi crescendo, como um “monstro” — libertado com o letreiro “O que é golden shower, em referência ao mítico tweet de Jair Bolsonaro, o primeiro que colocaram no Instagram.

Um “monstro” com capacidade de se rir de si próprio: uma inundação, que obrigou ao encerramento, deu origem a “Awarded best scuba destination 2019” e “If I sit in rice will it fix me”. Mas também com responsabilidade cívica: houve um lembrete para fazer o IRS, mas também para votar nas eleições europeias (ou não estivesse Nuno a colaborar com o projecto Vote Together, iniciado por Wolgang Tillmans). Com muitos piscares de olho ao que se passam online (do ghosting ao “Perdi o jogo”) e ao mundo em redor: na pandemia, de portas fechadas, o Pérola lá dizia puntz puntz sdds puntz puntz”, “cada mês é uma carta +4 do Uno” ou “Pérola Doce fabrico próprio”, quando foi anunciado que bares e discotecas poderiam funcionar com regras de cafés e pastelarias.

Nascidos em 1995 e 1996, os dois “piratinhas da comunicação”, com o mesmo “tipo de humor e pontos de vista”, sempre “agarrados à Internet”, passam a vida “a trocar prints” para materializar a voz do Pérola. Uma sopa de letras feita com um abecedário limitado, em que não há pontos de interrogação e coisas que tais. No fundo, só se “querem divertir” e comunicam para quem, como eles, também o deseja, “jovens e com sentido de humor”, aquele “público muito específico” que enche a casa. “Ninguém está aqui para ser levado a sério, senão seria banqueiro”, ri-se Nuno. “E não tem de fazer sentido para toda a gente.”

Entretanto, já há uma nova mensagem assinalar o derradeiro fim-de-semana de aniversário, que tem sido celebrado durante todo o mês de Novembro. Para soprar as velas estarão Joe Goddard (fundador dos Hot Chip) e André Tejo na sexta-feira, dia 26; no sábado, é a vez do produtor alemão Superpitcher com a prata da casa, Rompante. O festejo termina em grande na véspera de feriado, 30 de Novembro, com John Talabot, Supa e Elite Athlete. Puntz, puntz, puntz?