As borboletas de Lisboa

As mãos continuam a pingar o sangue de tantas outras que não conseguem falar, mas que, através de todas as mulheres que vão marchar e gritar pelas ruas [a 25 de Novembro], vão ter a homenagem feita.

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Mika Baumeister/Unsplash

Escrevo este texto com as mãos cheias de sangue, mas será em Lisboa, que iremos prestar homenagem às mulheres que morrem pelas mãos dos homens e segundo as suas obsessões.

- Marchemos! Levantemos os punhos!

Existem demasiadas mulheres mortas no chão. Debaixo dele.

Consigo ouvir o choro das suas mães, ler o que escreveram para homenagear as suas filhas, nas canoas.

Outras, não foram mortas, mas violadas, assediadas, desprezadas pelos que deste país se dizem homens, são lá homens! São monstros!

Os homens, esses, marcham ao nosso lado! A verdade é que não sei se toda a gente sabe o porquê da existência deste dia 25 de Novembro, Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres. Em todo, o agradecimento vai para as irmãs Mirabal. “Se me matam, levantarei os braços do túmulo e serei mais forte”, disse Minerva Mirabal, e seria o que acabaria por acontecer às três activistas políticas, mortas pela polícia secreta e responsáveis pela queda do regime trujillista.

Devido a elas, às três mariposas, milhares de borboletas pelo mundo inteiro, e após este dia ser reconhecido internacionalmente, pelas Nações Unidas, começaram a reclamar contra a violência, as violações, os assédios cometidos contra si.

A 25 de Novembro, voltaremos a fazê-lo, caminhando passo a passo, enchendo o peito e gritando BASTA! de violência machista sobre os nossos corpos.

As mãos continuam a pingar o sangue de tantas outras que não conseguem falar, mas que, através de todas as mulheres que vão marchar e gritar pelas ruas, vão ter a homenagem feita.

Do Largo do Intendente ao Rossio, prosseguirá uma marcha gritada. Tantas borboletas silenciadas e ensanguentadas com a vontade de terminar com os silêncios partidos, na nossa Lisboa. Na nossa Lisboa sufocada ainda pela violência machista. Violência essa que só quem sabe distinguir o sabor de um sumo de laranja do de o sangue a escorrer pela cara e que se entranha na boca é que o pode dizer.

Eu, felizmente, ainda só sei qual é o sabor do sumo de laranja, mas já bebi tantas histórias com sabor a sangue que tenho receio de ter perdido o paladar!

GRITEMOS! EM FRENTE! PELO FIM DA VIOLÊNCIA MACHISTA!

Tenho corpos estendidos aos meus pés!

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