Filho de Muammar Khadafi é candidato às presidenciais na Líbia

Saif al-Islam Khadafi foi crítico do regime do pai, mas manteve-se ao lado dele na revolução de 2011. O seu regresso evoca uma era anterior ao caos das guerras civis da última década.

Foto
Saif al-Islam Khadafi no momento em que confirmou a sua candidatura, este domingo Reuters/KHALED AL-ZAIDY

Um dos filhos do antigo ditador líbio Muammar Khadafi, Saif al-Islam Khadafi, anunciou este domingo que vai concorrer à eleição presidencial na Líbia, marcada para 24 de Dezembro.

Longe dos olhares públicos há vários anos, Khadafi, de 49 anos, espera reavivar uma certa nostalgia pelo período anterior às guerras civis da última década, que consumiram o país depois da invasão da Líbia pela NATO e da morte do coronel Muammar Khadafi, em 2011.

Mas o anúncio da candidatura surge numa altura de grandes dúvidas sobre a realização da primeira volta da eleição presidencial na data marcada, a 24 de Dezembro. Desde a primeira tentativa, em 2017, no auge da segunda guerra civil em uma década (2014-2020), a eleição presidencial foi sucessivamente adiada em 2018, 2019 e 2020.

Agora, a apenas seis semanas da nova data, os representantes das várias facções que combateram entre si nos últimos anos não se entendem sobre as regras para a aceitação de candidaturas e sobre a calendarização. Se o processo avançar, a segunda volta deverá acontecer a 24 de Janeiro de 2022.

Saif al-Islam Khadafi junta-se a uma lista provisória de candidatos que inclui alguns dos principais nomes da política líbia dos últimos anos: o actual primeiro-ministro do Governo de Unidade Nacional, Abdul Hamid Dbeibeh; o ex-ministro do Interior Fathi Bashagha; Khalifa Haftar, o líder do Exército Nacional Líbio e o homem forte na região Leste do país; Aguila Saleh Issa, presidente da Câmara dos Representantes; e Aref Ali Nayed, antigo embaixador da Líbia nos Emirados Árabes Unidos.

Apesar de o filho de Muammar Khadafi evocar um período de paz na Líbia, a maioria dos analistas considera que os líbios ainda têm bem presente a autocracia e a repressão dos tempos anteriores à guerra civil, e Saif al-Islam Khadafi terá dificuldades para se apresentar como o principal favorito.

Para além disso, o facto de as figuras do antigo regime estarem há tantos anos fora da polícia líbia pode dificultar a necessária mobilização do eleitorado, em contraste com as candidaturas de personalidades como Dbeibeh ou Haftar.

E Saif al-Islam Khadafi continua a ser um enigma para muitos líbios, desde a sua captura, em Novembro de 2011, pela milícia da região de Zintan.

Seria julgado à revelia e condenado à morte pelas autoridades de Trípoli, em 2015, por crimes de guerra, incluindo a matança de manifestantes durante a revolução de 2011. Libertado pela milícia de Zintan em 2016, é também procurado pelo Tribunal Penal Internacional.

Estudou na London School of Economics e chegou a ser visto como o natural sucessor do pai. Mas a sua relação com o regime de Muammar Khadafi nunca foi linear, variando entre críticas e apelos à democratização da Líbia, e um apoio incondicional assim que estalou a revolução, em 2011.

Reapareceu em Julho, numa entrevista ao jornal New York Times, em que abriu a porta à sua candidatura na eleição presidencial de Dezembro.

“Estive longe do povo líbio durante dez anos”, disse Saif al-Islam Khadafi. “O regresso tem de ser lento, lento. Como um striptease. Temos de brincar um pouco com a mente deles.”

Sugerir correcção
Ler 1 comentários