Hospital de Faro investe um milhão para criar serviço de cirurgia vascular

Anúncio foi feito no lançamento de uma iniciativa em que médicos, professores, alunos e artistas vão sair à rua para dar a conhecer o valor da insulina na qualidade de vida dos diabéticos.

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Rui Gaudencio

Uma das lacunas do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA), a ausência da especialidade em cirurgia vascular, foi agora ultrapassada com a instalação de um angiógrafo - equipamento no valor de um milhão de euros, aguardado há mais de uma dezena de anos. O administrador do CHUA, Paulo Neves, considera que este é o “um primeiro passo” para atrair médicos especialistas, que recusam deslocar-se para fora dos grandes centros por falta de perspectivas de carreira e de condições de evolução científica. O Algarve é uma das regiões onde os concursos públicos na área da saúde ficam, sistematicamente, desertos.

Um dos exemplos “positivos” dos serviços prestados pelo hospital de Faro, referiu Paulo Neves, é o serviço de cardiologia que, em 2012, montou a “Via Verde” coronária após ter sido dotado de modernos equipamento, para responder aos doentes de enfarte. “Hoje, é um serviço de referência”, sublinhou. Porém, não deixa de lamentar que “tem faltado atenção política e envolvimento da região para fazer investimentos no CHUA”. A construção do novo Hospital Central do Algarve é o caso mais evidente. A cerimónia da “primeira pedra” de lançamento da obra ocorreu em 2008 mas continua sem se ver um tijolo no terreno.

Do conjunto dos fundos comunitários a aplicar na região, na próxima década, a Comissão de Coordenação Regional do Algarve (CCDR) aponta para 1200 milhões de euros de investimentos. O edifício da nova unidade hospitalar estava orçado em cerca de 200 milhões. No entanto, no quadro financeiro ainda em vigor (2014-2020), foram mobilizados para a área da saúde, informou o presidente da CCDR, José Apolinário, apenas 5% do total dos fundos.

O anúncio de Paulo Neves decorreu no auditório da CCDR/Algarve durante a apresentação do plano de actividades da Universidade do Algarve destinado a assinalar os 100 anos da insulina. A iniciativa, denominada a “A insulina sai à rua”, vai decorrer até final do mês de Janeiro, com uma série de iniciativas ligadas às artes, ciência e educação. “Não queremos que o programa se esgote com algumas actividades a seguir tudo volta mesmo”, disse a directora da unidade de diabetologia do CHUA, Ana Lopes, a dinamizadora do projecto que se alargou a toda a região, envolvendo cerca de duas dezenas de entidades públicas e privadas.

Num universo aproximado de cinco mil doentes diabéticos existentes na região, “mais de três centenas são doentes crónicos, exigindo cuidados permanentes”, destacou a médica, lembrando a pré-história do tratamento da doença, há menos de 40 anos. “Os doentes tinham de ir para Lisboa para se tratarem, muitos morriam e não chegavam a saber a causa”, evocou, recordando o papel do clínico Eurico Gomes, pioneiro, nesta área, no Hospital de Faro. “Existe no mundo cerca de um milhão de jovens e crianças que hoje não existiriam se não fosse a insulina [substância que transforma o alimento em energia]”.

O programa “insulina sai à rua” contempla 24 actividades, contando com a colaboração de 14 elementos da Universidade do Algarve. Uma das iniciativas é a criação de uma “cápsula do tempo”, com testemunhos de profissionais de saúde e doentes. A abertura está prevista para daqui por dez anos, fazendo o balanço do que se terá passado, em termos de saúde pública, nesse período.

Por fim, Ana Lopes deixou um recado dirigido especialmente aos autarcas: “Não se pode pedir às pessoas para se mexerem, porque faz bem à saúde, e as cidades não permitirem o exercício físico”. Dos jovens, disse esperar que a criatividade “ajude a perceber para onde vamos” num mundo que ainda está assustado com a pandemia.

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