Primeiro encontro entre EUA e taliban depois da retirada focou-se na assistência humanitária

Governo interino afegão diz que pediu o descongelamento das reservas do banco central do país e revelou que Washington vai doar vacinas contra a covid-19.

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Bandeira dos taliban hasteada numa prisão em Cabul, no Afeganistão JORGE SILVA/Reuters

Representantes dos taliban e do Governo dos Estados Unidos reuniram-se este sábado, em Doha, no Qatar, pela primeira vez desde que o grupo fundamentalista islâmico conquistou o Afeganistão, aproveitando a retirada das tropas norte-americanas do país, ao fim de 20 anos.

Segundo o ministro interino dos Negócios Estrangeiros, o mullah Amir Khan Muttaqi, as partes discutiram a “abertura de um novo capítulo” na sua relação, num encontro que se focou, sobretudo em questões relacionadas com a assistência humanitária ao Afeganistão.

Na véspera das negociações iniciadas este sábado – e que continuarão no domingo –, um porta-voz do Departamento de Estado norte-americano tinha dito à Reuters que a Casa Branca exigia aos taliban que permitam o acesso das organizações humanitárias às regiões mais vulneráveis do território.

Citado pela Al-Jazeera, Muttaqi revelou que os EUA vão contribuir com a doação de vacinas contra a covid-19 e disse ainda que os taliban pediram aos norte-americanos para levantarem uma proibição em vigor sobre as reservas do banco central afegão.

De acordo com o Banco Mundial, a saída dos EUA e das forças da NATO do Afeganistão deixaram o Governo afegão sem as garantias bancárias para financiarem cerca de 75% da despesa pública do país.

O chefe interino da diplomacia afegã também afirmou que as partes discutiram formas de implementarem de forma mais eficiente o acordo alcançado entre os taliban e a Administração Trump, em Fevereiro do ano passado, que abriu caminho à retirada dos soldados norte-americanos do país.

Esse acordo exigia ao grupo jihadista que cortasse todos os seus laços com outros “grupos terroristas” e que garantisse que o Afeganistão não voltaria a albergar “terroristas” cuja missão fosse atacar os EUA e os seus aliados.

Embora tenham concordado em participar numa reunião frente-a-frente com os representantes dos taliban, os EUA continuam a dizer que não reconhecem a legitimidade do executivo interino afegão, composto essencialmente por elementos da cúpula do grupo fundamentalista, alguns deles integrantes da “lista negra” dos serviços secretos norte-americanos.

Prova da prudência americana, sublinhou Natasha Ghoneim, a jornalista da Al-Jazeera que noticiou o encontro em Doha, foi a ausência de Zalmay Khalilzad, o homem que tem representado os EUA há vários anos nas negociações com os taliban.

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