Alex Jones responsabilizado por ameaças aos pais das crianças mortas em Sandy Hook

Jones, que é uma das figuras mais populares no mundo das teorias da conspiração nos EUA, defendeu durante anos que o massacre de 20 crianças numa escola primária do Connecticut, em 2012, foi encenado por actores. Pais das vítimas foram ameaçados de morte.

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Protesto a favor do reforço do controlo no acesso às armas nos EUA, com a recordação das vítimas de Sandy Hook EPA/MICHAEL REYNOLDS

O norte-americano Alex Jones, fundador do site Infowars e um dos mais conhecidos e influentes promotores de teorias da conspiração nos Estados Unidos, foi considerado culpado de provocar “danos substanciais” às famílias de duas crianças mortas na escola primária de Sandy Hook, no estado do Connecticut, em Dezembro de 2012.

Durante anos, Alex Jones defendeu em público que o massacre de Sandy Hook — em que o atirador Adam Lanza, de 20 anos, matou seis adultos e 20 crianças de seis e sete anos — foi uma conspiração encenada por opositores do direito à posse de armas, e acusou os pais das crianças de serem actores contratados.

Essa teoria da conspiração levou ouvintes do seu popular programa de rádio a ameaçarem de morte os pais das crianças, e valeu-lhe uma série de processos em tribunal.

Na quinta-feira, numa decisão rara no sistema judicial norte-americano, a juíza Maya Guerra Gamble, do Texas, deu razão à queixa dos pais de duas das crianças — Noah Pozner e Jesse Lewis, ambos de seis anos — ainda antes do início do julgamento.

Segundo a juíza, Alex Jones desrespeitou o tribunal de forma recorrente desde o início do processo, em 2018, ao não apresentar a documentação exigida e ao ameaçar divulgar as moradas dos pais de Noah Pozner.

“Uma sucessão de advertências judiciais, de multas e outras sanções, foram ineficazes na tentativa de desincentivar a repetição do abuso”, disse a juíza, numa decisão citada pelo site Huffington Post. “O tribunal determina que a conduta da defesa neste caso resulta de flagrante má-fé e de uma indiferença insensível pelas suas responsabilidades.”

O montante que Alex Jones e a sua empresa, a Free Speech Systems, terão de pagar aos pais de Noah e à mãe de Jesse vai ser conhecido num momento posterior, por decisão de um júri.

"Liberdade de expressão"

Entre 2014 e 2020, Alex Jones promoveu no seu programa de rádio (o Alex Jones Show, um dos 100 mais populares nos EUA) a teoria da conspiração de que o massacre de Sandy Hook foi encenado por opositores do direito à posse de armas.

Ao longo dos anos, os pais das crianças que foram mortas na escola de Sandy Hook foram perseguidos e ameaçados de morte por seguidores de Alex Jones.

Em 2017, uma habitante da Florida, Lucy Richards, foi condenada a cinco meses de prisão por ter feito ameaças de morte por telefone aos pais de Noah, Leonard Pozner e Veronique De La Rosa. 

No ano seguinte, o mesmo casal e a mãe de Jesse, Scarlett Lewis, acusaram Alex Jones de difamação, agravada pelos “danos substanciais” causados pelos ouvintes do seu programa de rádio.

Num depoimento gravado em vídeo na fase de inquérito do processo, Alex Jones disse que já não acredita que o massacre de Sandy Hook foi encenado, mas recusou-se a admitir a sua responsabilidade no caso.

E apresentou, pela primeira vez, uma justificação para a sua crença inicial de que nenhuma criança foi morta na escola primária, a 12 de Dezembro de 2012: “Eu tive uma espécie de psicose no passado, que me levava a acreditar que tudo era encenado. Mas agora percebo que há muitas coisas que não são encenadas.

Numa nota publicada no site Infowars, com o título “Juíza do Texas crucifica a Primeira Emenda no caso Alex Jones/Sandy Hook”, o actual advogado de Jones, Norm Pattis (o sétimo em três anos), disse que a decisão da juíza Maya Guerra Gamble é “um abuso flagrante do poder discricionário do tribunal”.

“O que está em jogo nestes casos é nada menos do que o direito fundamental a falarmos livremente”, disse o advogado, indicando que a recusa de Alex Jones em colaborar com o tribunal ao longo dos anos pode ter como objectivo transformar o caso num processo sobre a Primeira Emenda da Constituição dos EUA.

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