Não deixemos sumir esta oportunidade

O envolvimento dos jovens na política é imprescindível para uma receita de sucesso a longo prazo. De referir que este envolvimento não depende exclusivamente de rotulagem política, depende, sim, da vontade de garantir um futuro e, se possível, um futuro melhor.

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Pauline Loroy/Unsplash

Chegamos a Setembro, o mês da euforia partidária e do positivismo geral. Urgem agora todos os esforços políticos para a escolha dos candidatos, para as fotografias e cartazes mais galantes e para os brindes mais supérfluos.

É, indubitavelmente, uma época benéfica para o debate intelectual que pode, ou não, conduzir a boas soluções para os problemas previamente assinalados pela população local. Neste período, o buraco na estrada e o muro deteriorado têm tanta ou mais importância do que a estabilidade económica e financeira. É a circunstância ideal para deixar de lado as especulações ideológicas e teóricas e empreender deliberações concretas que concernem ao interesse quotidiano da população em causa, não que estas percam a sua importância, mas porque as pessoas necessitam que os seus problemas reais e diários sejam resolvidos.

Pode observar-se através destas eleições autárquicas o funcionamento do mecanismo democrático, onde se materializa a proximidade do político com o cidadão e se quebra o distanciamento entre a máquina burocrática e legislativa do governo central. É, de facto, uma ocasião importante para reavivar a transparência e o escrutínio do poder político, que cada vez mais é uma preocupação comum. Contudo, é aqui que se questiona: e os jovens podem ter voz?

Naturalmente, esse é o extraordinário privilégio da vida democrática. Contudo, é visível e bastante debatido o notório afastamento dos jovens da política. Não pretendo aqui analisar as possíveis raízes dessa quebra de interesse, uma vez que, como referido, é um tema imensamente discutido em diversos locais. No entanto, não posso deixar de manifestar algum desacordo com a totalidade dessa afirmação.

Efectivamente, nos tempos que correm, são evidenciados inúmeros obstáculos à confiança naqueles que exercem o poder político. Nomeadamente no que se refere aos que, em vez de servirem aqueles que neles votaram, querem servir-se a si mesmos. É, portanto, compreensível que não exista uma vontade comum de contribuir para a manutenção desse ciclo. Neste cenário, as eleições autárquicas mostram-se como uma janela de oportunidades para auxiliar uma quebra nessa brecha democrática, permitindo uma maior proximidade e transparência de acção política.

É precisamente através dessa proximidade que se pode alcançar uma maior eficácia na capitalização da atenção dos mais jovens para a política. Afinal, de forma claramente sintetizada, a presença de indivíduos que em si nada mais carregam do que ideias e projectos é profícua na sua generalidade. Uma análise dos números recentemente revelados pelos Censos 2021 mostra uma conjuntura extremamente desfavorável, revelando simultaneamente uma necessidade imperativa de incluir os mais jovens na tomada de decisão.

Através da sua inclusão é possível criar um diálogo útil que pode gerar propostas e medidas que ajudem numa progressiva melhoria na qualidade de vida no país que se pretende que os jovens não abandonem. Aliás, quem irá sofrer com as consequências do hoje deve contribuir para tomada de decisão do amanhã. É essencial que as camadas mais novas auxiliem os decisores políticos eleitos a direccionar as suas políticas para os obstáculos que no mundo actual se colocam à frente das suas gerações.

Assim sendo, o envolvimento dos jovens na política é imprescindível para uma receita de sucesso a longo prazo. De referir que este envolvimento não depende exclusivamente de rotulagem política, depende, sim, da vontade de garantir um futuro e, se possível, um futuro melhor. A política deve ter braços abertos para todos, a heterogeneidade de faixas etárias é algo a encorajar, seja pela pluralidade de visões apresentadas, seja pela responsabilização do impacto das políticas.

É verdade que o poder central tem à sua disposição mecanismos que estão mais aptos para travar certas situações, mas não entremos em narrativas destrutivas do poder local e de culpabilização exclusiva do outro. Só através de uma estreita colaboração entre o poder local e o poder central é possível reverter fenómenos como o despovoamento do interior, a quebra da natalidade, a crise climática e muitos outros graves problemas que Portugal e as suas regiões enfrentam.

A esfera individual é elementar e nesse sentido os municípios e freguesias são dotados de um papel determinante para a realização dos desígnios. Não deixemos, então, sumir esta oportunidade. 

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