Ataque dos rebeldes houthis mata dezenas de soldados no Iémen

A base atacada pertence às forças da coligação liderada pela Arábia Saudita. Desde que Riad se envolveu na guerra iemenita, dezenas de milhares de pessoas morreram e o conflito tornou-se a pior crise humanitária do mundo.

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Distribuição de alimentos por uma organização não-governamental iemenita em Sanaa YAHYA ARHAB/EPA

Entre 30 e 40 soldados morreram e 60 ficaram feridos quando as forças houthis atacaram a base de Al-Anad, no Sudoeste do Iémen, afirmam à Reuters médicos e um porta-voz das forças iemenitas do Sul. O grupo rebelde xiita lançou vários mísseis balísticos e drones armados contra a base militar usada pelas forças enviadas pela Arábia Saudita para o combater, adianta ainda o porta-voz, Mohamed al-Naqeeb.

De acordo com Naqeeb, ainda vai demorar para se ter certezas sobre o número de vítimas, com as equipas de emergência a tentar resgatar pessoas horas depois dos ataques. Dois responsáveis médicos confirmam que vários corpos chegaram ao principal hospital da província de Lahj, enquanto os residentes dizem ter ouvido uma série de explosões fortes na zona de Al-Anad, situada a 70 km a norte da cidade portuária de Áden, a segunda cidade mais importante do país, que oficialmente funciona como capital provisória do governo reconhecido internacionalmente e apoiado pelos sauditas.

Já em Taiz, uma cidade disputada no Centro do Iémen, outras testemunhas ouvidas pela agência Reuters descrevem o disparo de mísseis balísticos a partir de posições houthis nos subúrbios a leste da cidade.

Os houthis, assim chamados porque a grande parte da sua liderança pertence à família houthi, são um movimento islamista político e armado surgido nos anos 1990 na zona de Saada, no Norte do Iémen. Em termos religiosos, são zaiditas, uma seita minoritária do islão xiita, enquanto a maioria dos iemenitas (60 a 65%) são muçulmanos sunitas.

As chamadas forças do Sul integram a coligação regional criada pelos sauditas, que entrou na guerra em 2015 para defender o governo de Abd-Rabbu Mansour Hadi, deposto pelos houthis no ano anterior. Sem o conseguir, as forças regionais, inicialmente lideradas pela Arábia Saudita e pelos Emirados Árabes Unidos (que entretanto reduziram muito a sua participação no conflito), contribuíram para aumentar a intensidade dos confrontos e o número de vítimas civis, através de ataques aéreos contra zonas densamente povoadas.

Mais do que os houthis, o alvo de Riad é o Irão, país que tem laços com os rebeldes iemenitas, e cuja influência os sauditas não toleram no país a sul da sua fronteira.

Com a chegada de Joe Biden à Casa Branca, em Janeiro, os Estados Unidos retiraram o apoio às operações militares sauditas no Iémen e as duas partes voltaram a sentar-se à mesa, em negociações promovidas por Washington e pela ONU. As conversações chegaram a um impasse, com os houthis a exigirem o fim do bloqueio ao aeroporto de Sanaa, a capital, e aos portos das cidades que controlam.

O arrastar do conflito no país que era já o mais pobre da Península Arábica e enfrentava várias crises, incluindo de falta de água, provocou aquilo que as Nações Unidas descrevem desde o ano passado como a pior crise humanitária do mundo – no início de 2021, a ONU dizia que quase 80% dos 20 milhões de iemenitas dependiam de ajuda humanitária para sobreviver (com a distribuição da ajuda muito dificultada pelos combates) e que mais de 13 milhões de pessoas estavam em risco de morrer à fome.

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