Um carro levantado à mão, três eléctricos libertados e turistas eufóricos

Na Rua da Graça, onde os eléctricos 28 ficaram imobilizados 22,5 horas em 2020, a PSP tirou um carro do caminho à força de braços.

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PEDRO CUNHA

Quando o dono do Renault Laguna apareceu a correr à esquina já não havia motivo para pressas. Minutos antes, uma minúscula parte da traseira do carro estava fora da zona delimitada por grossas riscas brancas – o suficiente para deter a marcha a três eléctricos 28.

É uma situação frequentíssima naquele troço da Rua da Graça que se aproxima a Sapadores. Em frente a uma galeria de arte e a uma creche existe uma zona de estacionamento automóvel que requer especial destreza aos condutores. Se o carro não entra com o ângulo certo e fica para lá das marcas no chão – nem que seja por poucos centímetros – o eléctrico não passa e saem todos a perder. Os passageiros, que ficam empatados até que apareça um reboque; o automobilista, que primeiro se assusta pensando que lhe roubaram o carro e depois tem de arcar com a despesa do reboque e da multa.

Era isso que estava prestes a acontecer neste domingo ao fim da tarde. Um eléctrico que fazia o percurso Prazeres – Martim Moniz aproximou-se do local e o guarda-freios ainda mediu com o olhar a distância que o separava do automóvel, mas depressa concluiu que não passava. Atrás deste logo surgiram mais dois eléctricos que também se imobilizaram.

Como sempre acontece nestes casos, o guarda-freios anotou a matrícula e ligou para a central da Carris, que chama o reboque da Polícia Municipal. Às vezes está perto e o assunto resolve-se em poucos minutos, outras vezes está longe e pode demorar mais de meia hora a desimpedir-se o caminho. Mais raro é o dono do carro aparecer antes disso.

Situação piorou, nesta rua

Segundo a Carris, os eléctricos estiveram 19 horas parados na Rua da Graça durante o ano de 2019, em que se registaram 838 horas perdidas em toda a rede. Em 2020 a situação piorou: 22,5 horas de interrupção na Rua da Graça e 44 eléctricos afectados, quando no ano anterior tinham sido 36. No panorama geral da cidade os números até foram ligeiramente melhores em ano de pandemia: houve 806 horas perdidas.

A paragem deste domingo talvez não conste das estatísticas de 2021. Nem cinco minutos tinham decorrido quando apareceu uma viatura da PSP que estava apenas de passagem (quem se encarrega destas situações é a Polícia Municipal). Quatro agentes saíram para analisar a situação e, depois de conferenciarem entre si e com os guarda-freios, calçaram luvas e levantaram o carro com as próprias mãos, movimentando-o apenas o suficiente para os eléctricos passarem.

Os turistas a bordo romperam em aplausos entusiásticos. Quando o dono do Renault Laguna apareceu a correr já não havia motivo para pressas.

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