Crise política arrasta-se na Bulgária depois de partido anti-sistema não conseguir formar Governo

O partido Este Povo Existe (ITN) não teve apoio de dois pequenos partidos anti-corrupção. A Constituição búlgara prevê mais duas tentativas para formar executivo e, caso o impasse se mantenha, serão convocadas novas eleições.

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O partido do antigo primeiro-ministro, Boiko Borisov, que ficou em segundo lugar nas eleições de Julho, ainda pode tentar formar Governo FRANCISCO SECO / POOL / EPA

Após uma vitória renhida nas eleições de 11 de Julho, o partido Este Povo Existe (ITN) não conseguiu apoio suficiente para formar uma coligação governativa e anunciou ter desistido dos esforços de formar um Governo. A Bulgária pode, assim, estar a encaminhar-se para as terceiras eleições desde Abril.

Um mês depois da ida às urnas, a instabilidade política arrasta-se na Bulgária. Nas eleições antecipadas de Julho, o ITN conseguiu uma vitória à justa sobre o partido do antigo primeiro-ministro (GERB) (24,1% e 23,5% respectivamente). O partido anti-sistema aproveitou a indignação pública perante a corrupção das elites políticas, depois de uma década sob a governação do antigo primeiro-ministro Boiko Borisov.

Na terça-feira, contudo, o ITN desistiu dos esforços de liderar um Governo de minoria. Com apenas 65 lugares, precisaria do apoio de mais partidos dos 240 deputados do Parlamento búlgaro, tendo recusado a cooperação do Cidadãos para o Desenvolvimento Europeu da Bulgária (GERB) de Borisov e do partido que representa a minoria turca, MRF.

O ITN não conseguiu, no entanto, o apoio dos potenciais aliados, dois pequenos partidos associados aos protestos anticorrupção, depois de ter recusado assinar um acordo político e proposto ministros que os partidos consideraram inadequados para combater os altos níveis de corrupção no país.

Numa declaração partilhada em directo no Facebook, Slavi Trifonov, líder do ITN, afirmou que não iria levar o Governo minoritário para votação no Parlamento e acusou os dois potenciais aliados de traição. “Sem o apoio dos partidos de protesto não iremos propor um Governo”, disse Trifonov.

“É claro que o protesto contra o GERB e tudo [o que foi feito] pelo GERB ficou no passado, enquanto agora vemos no Parlamento ambições políticas, hipocrisia, mentiras, traições e jogos que são absolutamente inaceitáveis para mim”, justificou.

A Constituição prevê mais duas tentativas para formar um Governo por parte de outros partidos. O GERB, que ficou em segundo lugar nas eleições, deve tentar a sua sorte, mas não tem o apoio necessário para conseguir uma maioria. Os analistas afirmam que as probabilidades de sucesso de outros partidos parecem estar limitadas.

O falhanço do ITN em formar um executivo aumenta a possibilidade de novas eleições ainda este ano, criando um vazio político que pode impedir a Bulgária de responder a um ressurgimento de casos de covid-19 e de ter acesso ao Fundo de Recuperação da UE para combater os efeitos da crise provocada pela pandemia.

“A actual falta de clareza em relação a um programa político plurianual, para o qual um Governo permanente é crucial, torna a economia muito mais vulnerável no contexto de uma crise de sanitária”, disse Dennis Shen, analista da agência de avaliação Scope. “A incerteza pode, adicionalmente, afectar o plano de adesão à zona euro”, acrescentou.

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