Protestos na Bulgária não acalmam, mesmo com a demissão de três ministros

Há uma semana que milhares de manifestantes pedem nas ruas de Sofia a demissão do primeiro-ministro búlgaro, Boyko Borissov, e exigem o fim da corrupção no país. Borissov viu-se obrigado a afastar três ministros para se tentar salvar.

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O primeiro-ministro búlgaro, Boyko Borissov Reuters/POOL

A Bulgária vive uma profunda crise política. Há quase uma semana que milhares de manifestantes tomam as ruas contra a corrupção e para exigir a demissão do primeiro-ministro, Boyko Borissov, que prometeu cumprir o mandato até ao fim, na Primavera de 2021. E, para acalmar os ânimos, demitiu os ministros das Finanças, da Economia e do Interior quando se prepara para enfrentar uma moção de desconfiança no Parlamento. 

Tudo começou quando o procurador-geral, Ivan Geshev, aliado de Borisov, ordenou a detenção de conselheiros anti-corrupção do Presidente búlgaro, Rumen Radev, com este a apelar à demissão do líder do executivo e da alta figura da Justiça. Milhares de manifestantes saíram à rua, em Sofia, contra o que dizem ser o mais recente sinal de uma longa história de politização do sistema judiciário pela elite, que o usa para se livrar de rivais, e as imagens da polícia a reprimir quem protestava tornaram-se virais na Internet, dando uma nova dimensão à crise política. 

Os protestos continuaram nos dias seguintes, aumentando a pressão sobre Borisov, e com eles a repressão. Mas, na quarta-feira, surgiram os primeiros sinais de fraqueza do primeiro-ministro ao anunciar, em comunicado, a demissão de três ministros envolvidos em polémicas, no que foi encarado como tentativa para se salvar.

O ministro das Finanças, Vladislav Goranov, foi apanhado a trocar mensagens suspeitas com um grande empresário, Vasil Bozhkov, acusado de evasão fiscal, suborno e crime organizado; o da Economia, Emil Karanikolov, foi uma peça fundamental no empréstimo de 44 milhões de dólares a uma pequena empresa; e o do Interior, Mladen Marinov, foi duramente criticado pela repressão da polícia. 

“O significativo neste momento é haver pessoas de diferentes quadrantes políticos a juntarem-se”, disse à Radio Free Europe Dimitar Bechev, associado do Eurasia Center do Atlantic Council. “Uma parte é por causa da situação política, claro, mas também tem a ver com a conjuntura da política do dia-a-dia, mas a um nível mais alargado que também diz muito sobre os profundos problemas do país”. 

“Aqueles que estão a protestar nas praças são mais experientes que nós?”, questionou o primeiro-ministro. “Vamos fazer uma renovação do executivo”, garantiu, salientando que não tem intenções de apresentar a demissão, argumentando que isso significaria ingovernabilidade no país. É que, continuou, o antigo partido da coligação, o Da, Bulgaria, agora na oposição, não tem parceiros suficientes para assumir a governação. 

O primeiro-ministro vai enfrentar na segunda-feira uma moção de desconfiança, sendo esta votada na quarta-feira por haver um lapso de tempo de 24 horas em semelhantes votações, e é provável que lhe consiga sobreviver, diz o Sofia Globe. O partido de Borissov, o GERB, e os seus parceiros minoritários ultra-nacionalistas precisam de atrair poucos votos de deputados independentes para a moção ser chumbada. 

Borissov, que governa o país há 11 anos, é acusado pelos seus críticos de levar a cabo uma estratégia de “captura do Estado”, enfraquecendo a independência das suas instituições e reprimindo a imprensa. E esta vaga de protestos, bem como a reacção das autoridades, fizeram soar as campainhas de alerta em Bruxelas, onde se teme que a Bulgária se torne “numa Polónia ou Hungria”.

“O que a Europa deve temer, o que o Parlamento Europeua deve temer, é estar a vir aí outra Polónia ou Hungria”, disse à Euronews o eurodeputado búlgaro Radan Kanev, dos Democratas por uma Bulgária Forte, que integra o Partido Popular Europeu.

Opinião partilhada por outra eurodeputada, Elena Yoncheva, dos Socialistas e Democratas, ao dizer que todo o sistema político é corrupto. “É por causa da corrupção que a Bulgária é o país mais pobre da União Europeia”, disse. 

Visões contestadas por outro eurodeputado búlgaro, desta vez do partido de Borissov. Andrey Kovatchev rejeita que haja qualquer deriva autoritária e comparação com a Polónia e a Hungria. “Temos liberdade total para que qualquer pessoa possa expressar as suas opiniões contra o senhor Borissov, contra o Governo”, disse o eurodeputado. 

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