Fraca adesão às vacinas na Bulgária abre programa a toda a população

Das 355 mil pessoas nas listas prioritárias, incluindo médicos e professores, menos de 100 mil aceitaram ser vacinadas. Teorias da conspiração e contradições entre especialistas fazem da Bulgária um dos países mais hesitantes em relação às vacinas contra a covid-19.

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O programa de vacinação foi aberto a todas as pessoas que queiram ser vacinadas LUSA/VASSIL DONEV

Os serviços de saúde da Bulgária começaram a vacinar a população em geral contra a covid-19, incluindo pessoas jovens e saudáveis, depois de o país ter registado uma elevada taxa de desistência nos dois grupos prioritários. Das 355 mil pessoas que podiam ser vacinadas em primeiro lugar – incluindo médicos, enfermeiros e professores –, menos de 100 mil responderam à chamada.

A resposta aos convites para a vacinação começou por ser baixa em outros países europeus, mas na Bulgária há sinais de que isso se deve a uma grande desconfiança em relação à segurança das vacinas.

Em Portugal, por exemplo, só 55% das pessoas com mais de 80 anos, e entre os 50 e os 79 e com doenças de risco, responderam às mensagens de telemóvel que foram enviadas desde o início da vacinação, tal como o PÚBLICO avança esta sexta-feira.

Mas as autoridades admitem que muitos idosos não têm telemóvel ou não o sabem usar – e, dos que responderam às mensagens, apenas 2,47% rejeitaram a vacina.

Na região de Bruxelas, na Bélgica, quase 75% dos profissionais de saúde que foram convidados não responderam à chamada para a primeira toma da vacina – 8000 em 11.000.

“Ainda não sabemos o que aconteceu”, disse Inge Neven, da Inspecção-geral de Saúde de Bruxelas, à agência de notícias Belga. “Se essas pessoas não têm endereço de e-mail, ou se a lista tinha endereços errados, podem não ter recebido os convites.”

Tanto em Portugal como na Bélgica, quem não respondeu às mensagens vai ser contactado, no limite, por carta.

Mas na Bulgária a situação é diferente, com o país a ser apanhado num processo de vacinação a pouco mais de um mês de eleições legislativas, e numa altura em que o índice de popularidade do Governo do conservador Boyko Borisov desceu para os 10% – o mais baixo da última década.

Ouvido pela agência AFP, o cientista político Parvan Simeonov, da empresa de sondagens Gallup, disse que a baixa taxa de vacinação deve-se à desconfiança nas instituições e à forma como o Governo tem gerido a crise.

De acordo com duas sondagens (uma da Gallup e outra do instituto Alpha Research), cerca de 50% dos inquiridos disseram que não querem ser vacinados – uma percentagem mais elevada do que nos outros países da União Europeia.

“A opinião pública está muito hesitante em relação às vacinas”, disse Boryana Dimitrova, da Alpha Research, à AFP. Segundo a especialista em sondagens, o clima resulta de meses de “teorias da conspiração, propaganda e contradições entre peritos”.

Para Dimitrova, as autoridades fracassaram na tarefa de convencer os grupos mais influentes – como os profissionais de saúde e os professores – de que as vacinas são seguras.

E as críticas ao Governo da Bulgária estendem-se à forma como o plano de vacinação foi ajustado para incluir a população geral, que acabou por beneficiar da rejeição nos grupos prioritários. Nos últimos dias, vários idosos e doentes crónicos esperaram horas nas filas para a vacinação, ao lado de pessoas jovens e saudáveis.

Esta semana, o Governo anunciou a reabertura dos restaurantes a partir da próxima segunda-feira, com os bares e as discotecas a seguirem-se no início de Abril, numa medida que pode aplacar o descontentamento nos sectores em causa a poucas semanas das eleições de 4 de Abril.

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