Galopim de Carvalho, defensor e divulgador da geologia e paleontologia

A sua melhor arma é a caneta. Escreve de forma magistral. E vê-se que gosta de ensinar e educar.

Nasceu em Évora há 90 anos António Marcos Galopim de Carvalho, conhecido divulgador da geologia e paleontologia portuguesa. Começou a carreira na geologia sedimentar, área que o acompanhou até hoje. Na paleontologia começou com um estudo sobre briozoários fósseis portugueses, minúsculos animais marinhos que encontramos frequentemente em superfícies duras de conchas e rochas marinhas. Mas a sua maestria não veio do estudo aprofundado de um grupo de animais, pequenos como os briozoários ou grandes como os dinossauros. O seu grande legado é-nos dado pelo esforço de divulgação da ciência e proteção do património geológico e paleontológico.

O período em que assumiu a direção no Museu de História Natural da Universidade de Lisboa (1983-2003) deu-lhe o enquadramento que lhe permitiu granjear grande visibilidade através de ações e lutas pelo património. A ele devemos o conceito e a proteção legal de Monumento Natural e de Geomonumentos, estruturas geológicas monumentais de interesse nacional, como são algumas jazidas de pegadas de dinossauros.

Nos anos 90, na chamada “Batalha de Carenque”, conseguiu impedir a destruição de um dos maiores trilhos de dinossauros da Europa pela construção da autoestrada A9. Ensinou, escreveu, alertou, promoveu, peticionou, “chateou”, seduziu e encantou sempre para promover a salvaguarda deste património geológico. Resultou com uma dispendiosa solução, conseguida pelo Estado Português, que foi a construção de um túnel que permitisse a passagem subterrânea e a preservação das pegadas. A ação custou milhões e, apesar de não ter destruído as pegadas, hoje a jazida de Carenque permanece sem musealização e tapada por tela e terra. A solução do túnel, em vez da remoção total do trilho, é ainda mais dispendiosa se nada fizermos para otimizar aquele geomonumento. Por isso, no ano passado, no alto dos seus vetustos 89 anos de idade, Galopim de Carvalho (e outros, onde me incluo) interpôs uma providência cautelar para a preservação daquele sítio, tendo-lhe sido dada razão pelo Tribunal de Sintra já este ano.

A sua melhor arma é a caneta. Escreve de forma magistral, sendo autor de dezenas de livros e artigos sobretudo de divulgação geológica, mas também de memórias, ficção e culinária. E vê-se que gosta de ensinar e educar. Basta segui-lo nas redes sociais e ver as suas 20 publicações por semana, sempre de alta qualidade, fruto da sua longa experiência, com a genica de um apaixonado pela geologia.

A Sociedade Portuguesa de Paleontologia presta hoje o seu tributo a António Marcos Galopim de Carvalho, o mais alto divulgador da geologia nacional.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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