Gap Year: Manuel e João vão percorrer o Sudeste africano em busca de inovação sustentável

A sétima edição do concurso Gap Year Portugal premiou os dois amigos que, com 6500 euros e durante oito meses, vão conhecer a história e a realidade de África, integrando também projectos de voluntariado. “Queremos perceber o que se desenvolve de mais inovador.”

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João Almeida, à direita, e Manuel Carvalho, à esquerda, são os vencedores do Gap Year 2021

Foi nos trabalhos de grupo no laboratório, nas noites de estudo intensivo, nos duelos de xadrez, nas festas e nas viagens que João Almeida e Manuel Carvalho, colegas de curso de Engenharia Electrotécnica e Computadores, no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, se tornaram “companheiros de guerra”. Agora, juntos, venceram a sétima edição do Concurso Gap Year Portugal e vão oito meses para África, com uma bolsa de 6500 euros, para colocarem em prática o projecto Prá Frente.

A ideia nasceu da vontade de participarem no concurso do Gap Year Portugal, mas também do desejo, “já antigo”, de conhecer África. “Queremos sair da nossa rotina e da nossa bolha para integrar experiências que consideramos curiosas. Acabámos agora o curso e, antes de ir para outras aventuras, estamos numa fase em que queremos dedicar-nos a esta experiência”, conta ao P3 João Almeida, jovem de 23 anos, a estagiar na Comissão Europeia, em Bruxelas.

“A ideia é estar oito meses no Sudeste africano: quatro meses a viajar e quatro meses a fazer voluntariado para contribuir em áreas como a inovação da tecnologia sustentável naquela zona”, diz Manuel Carvalho, também com 23 anos, a trabalhar como consultor na área da Tecnologia e Programação. “Existem já associações e projectos de voluntariado nestes países e a nossa ideia é integrá-los com a experiência do nosso curso e aplicar o que aprendemos”, afirma.

Os dois amigos vão começar a aventura na Etiópia, passando pelo Quénia, Tanzânia, Uganda, Ruanda, Zâmbia, Moçambique e África do Sul. Os projectos que vão integrar estão ligados às temáticas da educação, inovação e tecnologia.

“África é um continente muito diversificado, com culturas muito diferentes e espectaculares, com tribos, cidades e indústria. E, aparentemente, conhecemos muito pouco sobre este continente, pelo menos, das suas múltiplas dimensões”, analisa João. “O que conhecemos pelos olhos de quem está lá ou de quem já lá foi são narrativas muito uniformes dos desafios de um continente tribal e, digamos, parado na história.” Eles prometem não fazer o mesmo. “Claro que não queremos ignorar os problemas que África tem, mas queremos experienciar o Sudeste nas suas várias dimensões, como a gastronomia, paisagem, etc. Queremos, principalmente, perceber o que lá se desenvolve de mais inovador.”

Para que possam explorar “a fundo” estas realidades, os jovens definiram três eixos principais para a sua viagem: o património, as pessoas e a inovação. “O património inclui heranças culturais, legado histórico e tudo o que o envolve”, explica João. “Queremos conhecer as pessoas, os homens, as mulheres e os seus contextos. Neste sentido queremos levar material para criar conteúdo audiovisual, não só para utilização pessoal, mas também para ajudarmos a promover projectos e as histórias das pessoas.”

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A dupla quer elevar esta experiência e transpor fronteiras. “Com o material recolhido, e quando voltarmos para Portugal, a nossa ideia é utilizamos estes recursos para criar material escrito ou visual como um documentário”, espera João. “O último eixo é ajudar na inovação e na reinvenção sustentável, desde as pequenas comunidades com recursos escassos aos recursos de inovação mais desenvolvidos.”

Viajar durante a pandemia é “claramente” o maior desafio deste projecto, mas não é o único. “A pandemia é sempre um factor de imprevisibilidade. Temos a noção de que vai ser uma das grandes complicações da viagem”, afirma Manuel. Mas vão na mesma. “Para mim, em termos pessoais, diria que o maior desafio vai ser transmitir os nossos conhecimentos na parte da educação e na parte de apoio à tecnologia. Vai ser interessante passar conhecimentos para pessoas com bases completamente diferentes, crianças ou jovens.”

Já João acredita que a aventura será a parte da comunicação. “Queremos apostar nas interacções e conhecer as pessoas e as suas realidades. Acredito que vá ser desafiante, além da pandemia e das adversidades da saúde e protecção.”

Escolheram fazer um gap year, mas sublinham que esta não é uma opção viável para todos os jovens. “Tudo depende dos meios de cada um e do que cada um quer”, diz Manuel. “Hoje aposta-se muito mais nos estudos e existe uma pressão maior para se ser qualificado. Acho é importante ter espaço para integrar projectos diferentes, para outros desafios e para promover o autoconhecimento”, completa João.

Assim, com o Prá Frente, esperam “conhecer e mostrar uma região que não está parada no presente ou no passado, como dizem algumas narrativas, mas que anda para a frente com uma inovação mais diferente, sustentável e com menos recursos”.

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