Simão tem dois anos e é estrela de um livro de receitas vegan

“É a nossa forma de activismo: inspirar através de comida saudável e deliciosa”. Vegan Para a Família é o segundo filho de Rita Parente e André Nogueira.

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Rita, Simão e André Cocoon Cooks

Simão nasceu no dia 1 de Julho de 2019. A dupla, responsável por Cocoon Cooks, blogue de receitas e viagens, passou a trio e o “salta-pocinhas” passou a meter a colher — e o dedinho — em todas as rotinas diárias e receitas, inspirando o nascimento do segundo livro de Rita e André, pais vegan de uma criança que, dizem, não é vegan, mas que “come vegan”. “Não consideramos que ele seja vegan. O veganismo é um conjunto de valores morais e éticos que engloba muitos aspectos da nossa vida enquanto indivíduos e enquanto membros da sociedade, da espécie humana e do meio ambiente. Ficaremos felizes se, um dia, ele se identificar com esta ideologia com plena consciência e intenção.”

Vegan Para a Família (edição Zero a Oito) segue-se a Vegan Para Todos. E, 95 receitas à parte, a grande novidade chama-se Simão e todos os rituais em família que naturalmente forneceram material para outro “filho literário”, como costuma dizer Rita Parente, designer gráfica, ilustradora, chef e mãe — e grande fã do Baby Led Weaning, método de introdução alimentar que o casal vai praticando com o Simão em casa, nas recheadas páginas do livro e nas coloridas fotografias publicadas no Instagram.

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Cocoon Cooks

Resumidamente, a alimentação é guiada pelo bebé. “Ele deixa de ser um sujeito passivo e passa a ser activo nesta exploração”, explica à Fugas a mãe na véspera do segundo aniversário do Simão. Os sinais de prontidão são esperados por volta dos seis meses: a) “A capacidade de permanecer sentado com o mínimo de apoio"; b) “Agarrar e levar à boca os objectos de forma coordenada” c) “Demonstrar interesse em comer quando alguém come ao seu lado” d) “A diminuição ou desaparecimento do reflexo de protrusão da língua”. Ou seja, trata-se de “dar a oportunidade ao bebé de ser ele, obviamente com a supervisão dos pais, a explorar os alimentos que têm que ser preparados com o formato e textura correctos de forma a facilitar a aprendizagem”.

Rita e André começaram com vegetais brancos (batata, chuchu, alho francês...) “muito bem cozidos” e “cortados no formato de um dedo indicador de um adulto”, com margem para segurar e trincar”. Depois, apresentaram ao filho os vegetais coloridos e de seguida os verdes. Só depois é que introduziram as proteínas, as papas de aveia e o pão de fermentação lenta. “E correu tudo lindamente”, sorriem.

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Para além disso, recordam que este método anda de mãos dadas com o leite materno como principal fonte de nutrição. “Os elementos sólidos introduzidos são complementos e uma fonte de novas experiências sensoriais e de aprendizagem para o bebé. Tudo o que ele comer é um bónus, é uma vitória. A fonte de sustento é outra”, junta Rita.

“Quando chegou a hora de planear uma gravidez, de gerar vida, de sustentar um bebé e de preparar refeições para toda a família, nenhum mito teimoso nem céptico intransigente conseguiria fazer-nos questionar se estaríamos a tomar as decisões mais acertadas para nós”, escreveu nas páginas do seu segundo filho o jovem casal, alinhado primeiro com o obstetra e depois com o pediatra do Simão. “Fomos a uma consulta e não sabíamos se o pediatra estaria em sintonia connosco. E estava. É da velha guarda. Foi o meu pediatra. E actualizou-se”, sublinha André Nogueira, fotógrafo, chef e pai.

Ao longo dos últimos meses vão-se cumprindo “passinhos” e vai-se respeitando “o ritmo” do bebé. No caso do Simão, Rita e André foram introduzindo mais ou menos “seis alimentos novos por semana”. “Agora que já carregamos nos ombros a bagagem de ter preparado e partilhado centenas de refeições com o nosso bebé sentado à mesa, podemos seguramente afirmar que temos algo de novo a acrescentar à nossa obra.”

Panados de seitã (página 110) Cocoon Cooks
Risotto de abóbora-manteiga (página 143) Cocoon Cooks
Bolo mármore (página 188) Cocoon Cooks
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Panados de seitã (página 110) Cocoon Cooks

O livro ("Está mesmo real. É o que nós comemos em casa e o que nós praticamos. Está verdadeiro”, descreve André) contém papas e purés para a primeira infância e receitas e preparados “cem por cento vegetais e saudáveis” para todas as idades e fases da vida. “E isso não significa que os adultos tenham de se habituar a comer “comida de bebé”, antes pelo contrário!”, avisam numa publicação de Instagram em que um dos ingredientes principais de um Risotto de Abóbora-Manteiga são “as maravilhas do Baby Led Weaning”. “Os mais pequeninos podem comer só o arroz cremoso (cozinhado com puré de Abóbora-Manteiga assada, pasta de miso e caldo de legumes) e os adultos podem montar um prato todo bonito com os cogumelos shiitake salteados e uns rebentos.”

Vegan há seis anos e vegetarianos há sete (“Só comia panados e coisas simples com arroz; não comia nada daquilo que como hoje. Não foi um processo de retirar coisas, foi de acrescentar, explica André), ambos estão hoje “muito seguros dos valores” e também certos de que “há uma pressão social muito grande” que passa a ser nervosamente maior quando se trata da alimentação de uma criança

Por isso é que “há um bocadinho do Simão no livro”. “É a nossa forma de activismo: inspirar através de comida saudável e deliciosa. Não temos que comprometer o sabor ou a satisfação em prol da saúde do planeta, dos animais ou a nossa. Felizmente temos aqui o pacote completo. Se inspirarmos pequenas mudanças temos o objectivo cumprido.

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