Somos humanos, com os monstros e os objectos de Pedro Barateiro

Apresenta em Lisboa duas exposições (quase) em simultâneo, É só ferida, e Eixo-próprio. Oportunidade para um reencontro com um trabalho que, heterógeno nos seus meios, permanece crítico e poético, imbricado no quotidiano e na vida com os objectos.

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Bruno Lopes

Um monstro, um ser que só tem cabeça e pernas. E que fala, fala num tom lento e introspectivo. Chama-se Data Monster, a criatura, e é a protagonista de um filme de animação de Pedro Barateiro que o espectador pode ver em É só uma ferida, até 17 de Julho na Fundação Carmona e Costa, em Lisboa. No ecrã, Data Monster divaga, num tom confessional, sobre o processo de transformação que está a viver ou a sofrer. Assume-se não binário, diz não ter nome e fala de um ecrã que aparece sempre que deles necessita. Os seus dedos, revela, são os seus órgãos sexuais e não tem olhos, só pestanas que se despegarão do seu estranho corpo. A dada altura, alude a questões e tópicos hoje muito debatidos no espaço público: os discursos de ódio, a circulação incessante de informação, a depredação do planeta, a visão eurocêntrica do mundo. Há nela, contudo, algo de ambíguo. Parece fazer uma crítica, mas a sua forma parece determinada pela tecnologia. Por outras palavras: como se estivesse ligada à máquina, como se fosse uma máquina. Onde se posiciona este monstro? O que quer?

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