Uma longa despedida selada em 23 minutos e 14 segundos

Carlos do Carmo jogou neste disco todas as suas forças e ganhou na música aquilo que sabia não poder ganhar à morte. Uma digna despedida.

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Nuno Ferreira Santos

Escuta-se este disco como se assiste a uma peça de teatro. Porque os elementos dramáticos estão todos aqui, e no lugar certo: a guitarra portuguesa a evocar as modulações e jeitos da voz, no início (José Manuel Neto); a interpretação da vida nas suas ironias mais ligeiras ou amargas (Vasco Graça Moura, Júlio Pomar, José Saramago) e nas suas sombras (Herberto Helder, Sophia); a introspecção biográfica de certos versos (e como são extraordinárias as palavras de Hélia Correia e Jorge Palma); e sobretudo isto: cantar, como afastamento da morte. Se é isso que diz a belíssima frase que ouvimos a fechar o disco, da autoria de Mia Couto, o disco cumpre-a: lançado agora, nada nele o diz póstumo. Pelo contrário, mantém o ano de 2020 como data de edição e até o texto de Gonçalo Frota vem datado de Outubro do ano passado. O disco precede a morte e fixa-se antes dela. Afastando-a, como diz Mia.

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