Milhares de crianças na fronteira dos EUA ameaçam estabilidade na Casa Branca

Mais de 4000 menores aguardam em centros de detenção destinados a adultos que vão ser deportados. Partido Democrata pede solução rápida para o problema, receando o aproveitamento político do Partido Republicano.

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Mais de 4000 menores dormem em centros de detenção para adultos Reuters/VERONICA CARDENAS

O aumento do número de crianças que entraram nos Estados Unidos desde o início do ano, através da fronteira com o México, está a sobrecarregar a agência de imigração norte-americana e a motivar críticas no interior do próprio Partido Democrata. A situação tem tendência a agravar-se e pode vir a marcar a campanha para as eleições de Novembro de 2022.

Só em Fevereiro, 9400 menores não acompanhados chegaram ao lado norte-americano – quase três vezes mais do que em Fevereiro de 2020. Ao todo, foram detidas mais de 100 mil pessoas por entrada ilegal no país, no mês passado, em comparação com 34 mil há um ano.

Em parte, a subida, comparando com os últimos meses de 2020, tem pouca relação com a política norte-americana.

Todos os anos, milhares de habitantes das Honduras, Guatemala e Nicarágua aproveitam os meses de clima mais ameno para fazerem a perigosa travessia em direcção aos EUA.

E o agravamento da pobreza na América Central por causa da pandemia, somando-se às consequências dos dois furacões que afectaram a região em Outubro e Novembro (o Iota e o Eta), levaram ainda mais pessoas a tentarem chegar aos EUA em busca de melhores condições de vida. 

Para além disso, muitos migrantes acusam os traficantes de se aproveitarem da eleição de Joe Biden para dizerem que as portas dos EUA estão abertas – uma mentira que só descobrem a poucos metros da fronteira.

Fim da deportação de menores

Mas a subida do número de menores não acompanhados é um caso diferente, e a reacção da Casa Branca está a motivar críticas tanto à esquerda como à direita. 

Quando chegou à Casa Branca, Biden manteve a política do seu antecessor, Donald Trump, de ordenar a deportação de adultos não acompanhados e de muitas famílias que entram de forma ilegal nos EUA.

Ao mesmo tempo, anulou a deportação de menores não acompanhados, restaurando a política seguida no país desde a presidência de Ronald Reagan, na década de 1980.

Como resultado, as instalações da polícia de fronteira ficaram em risco de sobrelotação. Mais de 4000 menores estão hoje a dormir em centros de detenção preparados para adultos com ordem de deportação – muitos a dormir à vez em colchões que não chegam para todos e sem os cuidados de saúde e de higiene que existem em centros de acolhimento para crianças.

Os menores ficam retidos durante dez dias – muito mais do que os três permitidos por lei. Isto acontece porque têm de cumprir um período de quarentena por causa da pandemia, antes de serem transferidos para os centros de acolhimento espalhados pelo país e iniciarem os seus processos de regularização.

O aumento de entradas nos EUA, a falta de instalações para crianças na fronteira e os atrasos de vários dias no arranque dos processos fizeram com que o sistema começasse a ceder.

Herança de Trump

Na ala progressista do Partido Democrata, Biden é criticado por não permitir que os menores sejam entregues rapidamente a familiares e outros tutores residentes nos EUA.

Em resposta, a Casa Branca culpa a Administração Trump e diz que não pode libertar os menores antes de escrutinar as suas famílias e possíveis tutores. Ao mesmo tempo, ordenou a intervenção da agência de emergência (a FEMA) e está a tentar garantir a reconversão de um estádio, no Texas, para o acolhimento dos menores.

No Partido Republicano, o agravamento da situação é aproveitado para o reforço da mensagem eleitoral de que Biden quer abrir as fronteiras para deixar entrar todos os migrantes. 

Segundo uma sondagem da CNN, da semana passada, o Presidente dos EUA tem hoje 51% de aprovação entre o eleitorado – mais do que Trump alguma vez teve –, mas apenas 43% apoiam as suas políticas de imigração, o que pode ser explorado pelos candidatos republicanos nas eleições de Novembro de 2022 para as duas câmaras do Congresso dos EUA.

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